Alegada vítima diz que, aos 16 anos, R. Kelly a fez vestir-se de escuteira e filmou sexo

Julgamento do músico por abuso sexual e exploração sexual infantil decorre em Nova Iorque. Testemunha-chave da acusação diz que o cantor a obrigava a dizer a terceiros que era mais velha. R. Kelly diz ser inocente.

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A testemunha Jerhonda Pace, confrontada com uma peça de roupa que R. Kelly lhe pediria para usar JANE ROSENBERG/Reuters

Uma testemunha chave da acusação contra R. Kelly no seu julgamento por abuso sexual testemunhou em tribunal na quinta-feira dizendo que o cantor de R&B filmou as relações sexuais entre ambos quando ela tinha 16 anos e que insistia que se vestisse de escuteira.

Jerhonda Pace, de 28 anos, foi uma das primeiras mulheres a acusar publicamente Kelly de abuso sexual e falou ao tribunal pelo segundo dia consecutivo de testemunho, sendo a primeira de muitas testemunhas da acusação arroladas. R. Kelly tem 54 anos e está a ser julgado em Brooklyn. Sobre ele pendem outras acusações do género nos estados do Illinois e Minnesota. 

O cantor, cujo nome completo é Robert Sylvester Kelly, declara-se inocente quanto às nove acusações de exploração sexual de mulheres e raparigas de quem abusou ao longo de duas décadas.

A acusação diz que o cantor, premiado com três Grammy e autor de I Believe I Can Fly e Bump N’ Grind, usava um grupo de managers, guarda-costas e outros funcionários para recrutar as suas vítimas, que depois ameaçava chantagear se fugissem. Pace é uma das seis alegadas vítimas nomeadas na acusação. Quatro das vítimas que constam do processo eram menores de idade na altura dos alegados abusos sexuais, estando Pace e a falecida cantora Aaliyah, que tinha 15 anos quando R. Kelly se casou com ela, entre elas. Aaliyah morreu num acidente de avião em 2001. Kelly foi acusado em 2019.

Na quarta-feira, Pace já tinha testemunhado que os abusos sexuais incluíam a regra de que obedecesse às “regras de Rob”, como pedir autorização para ir à casa de banho, saudando Kelly sempre que ele entrasse numa divisão e chamando-lhe “papá”. Hoje Pace é casada e tem quatro filhos. Diz que contraiu herpes devido a Kelly e a acusação diz que o cantor lhe transmitiu a doença deliberadamente.

Na quinta-feira, Pace disse à procuradora Elizabeth Geddes que às vezes Kelly queria que ela usasse puxos no cabelo quando se encontravam e que se “vestisse como uma escuteira”, mandando-a dizer a toda a gente que tinha 19 anos e não 16.

Quando foi interrogada pela defesa de Kelly, o advogado Deveraux Cannick tentou provar que o cantor não sabia que Pace era menor de idade. Pace testemunhou que ele viu o seu cartão de identificação com a idade de 16 anos. Pace admitiu também na quinta-feira que assinou um acordo com Kelly em que declara que ela não lhe mostrara tal documento. “Não li o acordo antes de o assinar”, disse agora. 

À acusação, Pace leu uma parte do seu diário em que, em 2010, escreveu como Kelly a tinha asfixiado e mantido relações sexuais com ela no seu último encontro na casa de Chicago do cantor. “Rob deu-me três estalos e disse-me que se lhe mentisse outra vez não seria com a mão aberta [que me bateria]”, leu a testemunha.

A defesa tem argumentado que as alegadas vítimas têm efabulado os seus relatos ou mesmo mentido para lucrar com o caso ou se vingarem do cantor pelo fim das suas relações com ele. No final do testemunho de Pace, Kris McGrath, que diz ter sido médico de Kelly durante 25 anos, disse aos júri que acredita “100%” que o cantor tinha herpes e que leh prescreveu tratamento logo em 2007 e que lhe disse que tinha de contar da doença contagiosa às suas parceiras sexuais.

O julgamento é o culminar de anos de suspeitas e acusações contra Kelly, muitas das quais discutidas no documentário de 2019 Surviving R. Kelly, e acontece quase quatro anos após o início da era #MeToo. Se for condenado, Kelly pode incorrer numa pena de prisão perpétua.

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