A economia do Afeganistão e as consequências do regime taliban

O declínio acentuado da actividade económica, particularmente na indústria e no comércio, vai ser uma consequência praticamente inevitável da tomada do poder pelos taliban.

A economia afegã, cujo PIB foi de 19,8 mil milhões de dólares em 2020, a que corresponde o valor per capita  de 500 dólares, faz parte do grupo das economias mais pobres do mundo. As elevadas desigualdades sociais agravaram-se na primeira metade da última década, com a percentagem da população abaixo do limiar nacional de pobreza a aumentar de 38% em 2011 para 55% em 2016. O peso da agricultura no PIB é muito elevado, traduzindo o seu fraco desenvolvimento, e decaiu de cerca de 38% no início do milénio para valores entre 22% e 27%, ao longo da última meia dúzia de anos. A industrialização é muito fraca, com a agravante de o seu peso no produto ter diminuído de 28,2% em 2006, ano em que atingiu o valor mais elevado, para valores oscilando entre 10% e 14%, depois de 2017.

A exportação de produtos agrícolas e minerais é muito importante para economia afegã, o que, conjuntamente com a sua forte dependência de produtos importados, faz com o que o peso do comércio externo no produto interno tenha oscilado entre 35% e 47,5% ao longo da última década. Para além da sua fragilidade estrutural, a economia afegã apresenta uma acentuada instabilidade que se tem traduzido em grandes oscilações das taxas de crescimento anuais do PIB. A despesa pública representa mais de 50% do PIB, sendo suportada, em grande parte, pela ajuda externa cujo valor tem rondado 25% do PIB ao longo das duas últimas décadas. As duas outras fontes de financiamento da despesa pública são, em proporções relativamente próximas, os impostos e a emissão de dívida.

Uma componente importante da produção agrícola é o ópio, do qual esse país é responsável por mais de 84% da produção mundial, segundo o Relatório Mundial das Drogas, das Nações Unidas de 2020. O ópio, conjuntamente com a heroína, constitui uma das principais fontes de financiamento dos taliban que, através do controlo das redes de tráfico desses produtos, obtêm uma receita anual superior a 400 milhões de dólares. A extorsão e lançamento de impostos sobre as populações das regiões que têm dominado dão-lhes mais de 150 milhões de dólares por ano. As doações provenientes do Paquistão, Irão, Arábia Saudita e países do Golfo Pérsico, são outra fonte importante de financiamento, que atinge os 250 milhões de dólares anuais.

A diminuição da importância do modo de vida tradicional, em que a produção agrícola e criação de gado são as determinantes da criação de relações familiares, gera uma massa de excluídos, predominantemente homens, que deixando de estar integrados nesse modo de produção, são também desqualificados para profissões ligadas aos novos tipos de actividade económica. Esta população de excluídos constitui seguramente a principal base de recrutamento do exército taliban. A fuga ao regime taliban duma parte da classe média com poder de compra, e a reposição de hábitos de vida retrógrados, vão afectar negativamente o consumo. Por outro lado, o risco de sujeição a práticas de extorsão desmotiva a manutenção e a criação de negócios, que tenderão a ficar no nível indispensável à subsistência dos empresários.

Assim sendo, o declínio acentuado da actividade económica, particularmente na indústria e no comércio, vai ser uma consequência praticamente inevitável da tomada do poder pelos taliban.

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