Cientistas precários só perspectivam futuro fora de Portugal

Inquérito online foi promovido pela Associação Nacional de Bioquímicos.

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Fernando Veludo/NFactos

Cientistas em Portugal consideram que o emprego científico não é valorizado no país face a outros e a grande maioria vive na precariedade, o que leva a que quase todos só perspectivem um futuro no estrangeiro. Os dados são as conclusões de um inquérito online colocado a 300 investigadores no mês de Maio pela Associação Nacional de Bioquímicos (ANBIOQ), cujos resultados foram divulgados esta terça-feira.

A quase totalidade dos inquiridos (94,6%) defende que o emprego científico não é valorizado em Portugal e 70% declararam sentir-se numa situação muito precária em termos laborais, um sentimento reportado até por aqueles que têm contrato de trabalho num universo em que o vínculo costuma ser uma bolsa de investigação, que não garante direitos sociais, estabilidade ou perspectivas de futuro, de acordo com os testemunhos que acompanham os resultados.

“Relativamente à qualidade de vida, 53,5% dos inquiridos considera estar numa situação significativamente mais desfavorável do que a maior parte dos empregos financiados por fundos públicos. Quando é considerado a duração e estabilidade da situação de trabalho, este número sobe para 70%. Contrariamente ao esperado, os inquiridos com contrato de trabalho apresentam valores ainda elevados (44,8% e 63,8%), revelando que o contrato de trabalho é um passo em frente, mas não único para dar condições de vida e trabalho aos investigadores portugueses”, lê-se no comunicado da ANBIOQ.

Os inquiridos revelam também sentir “desinteresse e falta de apoio” do país, pelo que “84,7% dos inquiridos não se vê ou não sabe se realizaria investigação em Portugal a longo prazo” e “da minoria que consegue perspectivar um futuro em Portugal (somente 14,4%), uma grande percentagem (69,8%) tem contrato de trabalho”.

Aspectos formais dos concursos de financiamento são um dos factores de desmotivação, com os inquiridos a apontarem a transparência e a gestão do financiamento como problemas.

O inquérito colocava questões sobre o nível de habilitações, tipo de vínculo laboral, origem do financiamento do projecto científico, emprego anterior no estrangeiro, perspectivas de trabalho a longo prazo em Portugal e se a remuneração é adequada às qualificações e funções.

Segundo os dados divulgados, cerca de 90% dos inquiridos têm grau de mestre ou doutoramento, mais de metade é remunerado através de uma bolsa e apenas pouco mais de um terço tem contrato de trabalho. Mais de 85% é financiado por entidades nacionais públicas e o financiamento internacional representa menos de 10% do total.

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