Relatório do IPCC: a urgência de cuidar do planeta

Precisamos de criar pontos de esperança para o planeta e isso só se faz com compromissos e políticas que ajudem a mudar a dinâmica da economia, tornando-a mais sustentável e responsável.

Foi publicado esta semana o Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O aviso mais sério dos cientistas até hoje. Um verdadeiro abanão de realidade para quem ainda não percebeu o estado em que os nossos hábitos e comportamentos deixaram o planeta.

As alterações climáticas estão a acelerar a um ritmo mais rápido do que se esperava e o tempo para as reverter é pouco ou nenhum. Nos cenários possíveis para o futuro do nosso planeta, traçados neste relatório, muitos dos efeitos do aquecimento global vão perdurar séculos ou milénios. As florestas, os solos e os oceanos, que absorvem o dióxido de carbono emitido pela atividade humana, estão a atingir um ponto de saturação e os danos são irreversíveis.

Se um relatório científico, com mais de três mil páginas, realizado por mais de 230 cientistas com base em 14.000 estudos publicados não é suficiente para uma mudança urgente de comportamentos, então não sei o que será.

Dos vários quadrantes e responsáveis políticos, nacionais e internacionais, ouviram-se as expectáveis reações, como a de António Guterres, que diz que o relatório é um “alerta vermelho” que deve fazer soar os alarmes sobre as energias fósseis que “destroem o planeta"; ou a de António Costa, que defendeu que o “alerta vermelho” dado “confirma o acerto" da “prioridade estratégica” do Governo, apontando a necessidade de atingir a neutralidade carbónica em 2050.

Mas falta claramente aliar à intenção das palavras a coerência da ação! Sobretudo por parte do Governo que não só tardou neste reconhecimento, como precisa de agir em conformidade e ter metas mais ambiciosas no que respeita à descarbonização e transição energética. O ano de 2050 pode e será, muito provavelmente, tarde de mais.

É urgente cuidar do planeta e isso só se faz com políticas coerentes e transversais às várias áreas de governação. E a oportunidade, não tenhamos ilusões, é o agora!

Diz-se que somos a última geração de eleitos a poder travar os efeitos da ação climática. Mas, na verdade, somos a última geração a poder mitigar os efeitos das alterações climáticas, porque neste momento, por todo o globo, já estamos a sofrer com as suas consequências. E quem está a pagar a fatura é, em regra, quem menos polui e a população mais vulnerável. 

É urgente acabar com as borlas fiscais à indústria petrolífera através das ISP e introduzir uma taxa de carbono à indústria pecuária, a par de uma forte redução desta atividade: dois dos setores mais responsáveis pela poluição e emissão de gases com efeito de estufa e que, até aqui, têm sido intocáveis. E não pode haver setores intocáveis quando falamos da sobrevivência do nosso planeta!

Temos de mudar a forma como vivemos, de inovar, de apostar no empreendedorismo verde, na preservação dos ecossistemas, numa adequada gestão florestal (e travar a desflorestação), na proteção dos Oceanos, um dos maiores sumidouros de carbono, e temos de o fazer já!

Precisamos cada vez mais de não destruir e de preservar os últimos redutos da natureza e biodiversidade, travando políticas desastrosas como o Aeroporto do Montijo (uma solução inviável dada a crescente subida do mar), a destruição das Alagoas Brancas ou a construção em dunas primárias. É urgente, por outro lado, encerrar Almaraz e proteger os rios como o nosso Tejo.

Precisamos de criar pontos de esperança para o planeta e isso só se faz com compromissos e políticas que ajudem a mudar a dinâmica da economia, tornando-a mais sustentável e responsável. Porque não há maior bem, este de valor imensurável, como o do “pálido ponto azul” que nos acolhe.

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