Câmara dos Deputados rejeita projecto para voto impresso no Brasil

Alteração constitucional era defendida pelo Presidente, Jair Bolsonaro, que tem feito campanha contra o voto electrónico.

Foto
Bolsonaro recebeu a parada militar em Brasília, a primeira vez que um Presidente o fez Joedson Alves/EPA

A Câmara dos Deputados do Brasil rejeitou na noite de terça-feira um projecto de lei que pretendia instituir o voto impresso no país. Numa sessão marcada pela ausência de 65 deputados, registaram-se 218 votos contra, 229 a favor e uma abstenção.

O projecto foi apresentado como emenda constitucional e, portanto, exigiria a aprovação de pelo menos três quintos dos membros da Câmara dos Deputados, ou seja, de 308 do total de 513 deputados. Com a decisão do plenário, a proposta será arquivada.

Ao anunciar o resultado, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, afirmou que “a democracia do plenário (...) deu uma resposta”. Lira acrescentou: “E na Câmara eu espero que esse tema esteja encerrado.”

O voto impresso é defendido pelo Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que afirmou inúmeras vezes que o sistema de voto electrónico, que o país adoptou em 1996 e desde então não foi objecto de suspeita, suscitaria fraude eleitoral, defendendo assim o regresso ao antigo sufrágio com boletins de papel, em paralelo ao sistema actual.

Bolsonaro levou a cabo uma forte campanha contra as urnas electrónicas e chegou a acusar membros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de participarem num “​complot” para defraudar as eleições presidenciais de 2022 a favor do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera todas as sondagens.

As denúncias sem provas feitas por Bolsonaro levaram o TSE a abrir um processo administrativo contra o Presidente e a pedir que este seja investigado pelo Supremo Tribunal Federal por supostamente cometer atentados à democracia e divulgar informações falsas.

O Presidente brasileiro também foi alvo de um outro pedido de inquérito do TSE para apurar a divulgação de documentos secretos da Polícia Federal sobre uma invasão do sistema informático do tribunal, com os quais o Presidente brasileiro tentou justificar a campanha contra o voto electrónico.

O projecto a favor da adopção do voto impresso já tinha sido analisado e rejeitado na comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, mas Lira alegou que decidiu levá-lo ao plenário para “dar fim ao sério conflito institucional” entre o chefe de Estado e o sistema judiciário brasileiro.

O Presidente da Câmara dos Deputados também disse que conversou com Bolsonaro, que lhe “prometeu respeitar a decisão do plenário dos deputados”.

A análise da emenda constitucional sobre o voto impresso aconteceu no mesmo dia em que Bolsonaro presidiu a um desfile de blindados militares da marinha em frente do Palácio do Planalto, sede do executivo, do Congresso brasileiro e do Supremo Tribunal Federal.

Embora as Forças Armadas enviem anualmente veículos para um exercício militar em Formosa, cidade localizada a cerca de 300 quilómetros de Brasília, esta foi a primeira vez que veículos militares passaram por Brasília e foram recebidos por um Presidente da República.

O desfile foi duramente criticado pela oposição, que acusou Bolsonaro de tentar fazer uma demonstração de força e pressionar parlamentares no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados votou a proposta sobre o voto impresso.

Sugerir correcção
Ler 22 comentários