Stephen Colbert considera que há um conflito de interesses entre a CNN e os irmãos Cuomo

O apresentador de The Late Show observou que a CNN continuou a transmitir Cuomo Prime Time, um programa apresentado por Chris Cuomo, mesmo depois de a cadeia televisiva ter tomado conhecimento que aquele aconselhara informalmente o irmão.

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Reuters/CAITLIN OCHS

Horas depois de Andrew Cuomo, governador de Nova Iorque, ter anunciado a sua renúncia ao cargo devido a queixas de assédio secual, o apresentador Stephen Colbert entrevistou o Brian Stelter, que apresenta o programa informativo Reliable Sources, na CNN, e acusou a cadeia televisiva de ter uma ligação ao escândalo, uma vez que o irmão mais novo do político democrata, Chris Cuomo também trabalha na CNN. 

O apresentador de The Late Show observou que a CNN continuou a transmitir Cuomo Prime Time, um programa apresentado por Chris Cuomo, mesmo depois de a cadeia televisiva ter tomado conhecimento que aquele aconselhara informalmente o irmão mais velho, quando se começou a falar das alegadas queixas, no início deste ano

De início, Chris Cuomo terá dito ao irmão para assumir uma postura forte e a não renunciar, noticiou o The Washington Post em Maio. Nesta terça-feira, à noite, Colbert lembrou uma notícia mais recente no The New York Times que afirma que a estrela da CNN só a semana passada é que disse ao irmão para se demitir, já depois da divulgação de um relatório do procurador-geral de Nova Iorque que concluia que o governador havia assediado sexualmente 11 mulheres.

“Isso criou algum conflito na CNN?”, perguntou Colbert a Brian Stelter, que apresenta o programa de domingo Reliable Sources. “Por detrás da porta, as pessoas estão zangadas com ele ou ele enfrenta algum problemas?” O convidado respondeu que há “algumas pessoas furiosas com ele”, acrescentando que uma fonte confirmou-lhe que Chris Cuomo aconselhou o irmão, por telefone, esta semana.

“A sua fonte é Chris Cuomo?”, perguntou Colbert. Este negou, justificando que é preciso ter limites. “É preciso traçar esses limites”. Ao que Colbert respondeu: “Porquê? Ele [Chris Cuomo] não o faz.” Stelter não concorda: “Na verdade, acho que sim.”

O profissional tentou explicar esses limites, dizendo que a administração da CNN considerou “inapropriado” que a sua estrela de horário nobre estivesse aconselhando informalmente o seu irmão. Mas, acrescentou, a administração também compreende as suas acções. “Eles disseram: ‘Claro, você vai falar com seu irmão.’”

Stelter disse ainda que a administração da CNN decidiu que Chris Cuomo não poderá comentar o caso do irmão. “Por que é que a administração não decidiu da mesma maneira quando o irmão [mais velho] esteve no programa [do mais novo] quase todas as noites durante a pandemia?”, perguntou Colbert, referindo-se às inúmeras vezes que Chris Cuomo entrevistou o governador sobre a resposta de Nova Iorque à crise provocada pelo coronavírus.

“Acho que é complicado”, reconheceu Stelter, antes de acrescentar que o envolvimento de Chris Cuomo no escândalo foi “bastante esquisito para a CNN”. A aparição do principal correspondente da cadeia televisiva no The Late Show aconteceu dias depois de o próprio se ter referido à situação dos irmãos Cuomo como um “enigma para a CNN que não tem uma resposta perfeita, nem qualquer solução perfeita”.

Depois de o relatório do procurador-geral de Nova Iorque ter confirmado que Chris Cuomo havia avisado o irmão sobre o escândalo e que a CNN repreendeu o apresentador por isso, Stelter disse que alguns funcionários da rede acreditavam que Cuomo “deveria ser interrogado como qualquer outra pessoa”.

Stelter não apareceu no programa de Colbert para falar sobre Chris Cuomo, mas sim para uma actualização do seu livro Hoax, sobre a relação entre a Fox News e o ex-presidente Donald Trump. Ainda assim, o autor concluiu que o envolvimento de Chris Cuomo no escândalo do irmão não comprometeu a integridade jornalística da CNN. “O mais importante é que cobrimos a históriada mesma forma que faríamos com qualquer outra ”, declarou. “Em última análise, não é isso que importa?”


Um exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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