ASPP/PSP diz que relatório da IGAI não espelha exigência imposta pela pandemia

Presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia diz que dados “não foram devidamente considerados” devido à especificidade das ocorrências dos últimos dois anos.

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Sara Jesus Palma

A Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) considera que o relatório da Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) conhecido esta segunda-feira não espelha o ano de muita exigência imposta aos agentes da PSP por causa da pandemia.

“Parece-me que são dados que não foram devidamente considerados uma vez que (…) quem esteve no terreno nestes últimos dois anos face àquilo que foi a especificidade das ocorrências policiais perceberá certamente aquilo que estou a falar”, disse à Lusa o presidente da ASPP/PSP, Paulo Santos, acrescentando: “pode não ser revertido em autos ou mesmo nos relatórios, mas são dinâmicas que importa salientar nas actuações policiais”.

O responsável falava a propósito do relatório da IGAI divulgado esta terça-feira pelo jornal PÚBLICO, que indica um aumento de 12% das denúncias e indica que as queixas contra agentes da PSP representam metade das 1073 denúncias feitas no último ano.

Paulo Santos sublinha ainda que o último ano foi de “maior exigência” para os agentes da PSP, tendo em conta o confinamento que fechou as pessoas em casa e os “conflitos familiares e entre vizinhos”.

“Há um escrutínio que é feito tanto em termos criminais, como disciplinares ou da opinião pública daquilo que são as actuações policiais e as actuações policiais não se esgotam apenas na performance ou na intervenção da polícia no terreno. Têm outras componentes e outras variáveis”, explicou.

Paulo Santos sublinhou ainda que “cada vez mais as actuações e as intervenções policiais são complexas, são exigentes e são também cada vez mais arriscadas”.

“O relatório traduz efectivamente um conjunto de queixas que os cidadãos fizeram contra intervenções policiais, no entanto, não nos podemos esquecer da conclusão dos processos que foram abertos e essa conclusão determinou que apenas oito dessas queixas resultaram efectivamente em punições disciplinares”, acrescentou.

O responsável considerou tratar-se de “um valor residual” tendo em conta aquilo que é “a dinâmica das intervenções policiais” em termos de complexidade e exigência.

Segundo a edição desta terça-feira do jornal Público, que cita o mais recente relatório da IGAI, a violação dos deveres de conduta dos agentes da PSP, GNR e SEF e as ofensas à integridade física representam quase dois terços do total das queixas recebidas, que aumentaram 12%, uma tendência que se mantém desde 2017.

As queixas, denúncias e certidões judiciais que deram origem a processos de averiguação da IGAI passaram de 950 (em 2019) para 1073 (2020), mostra o relatório, que revela igualmente um aumento dos processos instaurados no ano passado, de 91 para 124.

Grande parte das queixas referem-se à violação de deveres de conduta dos agentes da PSP, GNR e SEF, representando 42,3% do total.

As queixas classificadas como ofensas à integridade física somam 20% do total, ou seja, 120 casos, o que é caracterizado como tendo um peso “muito significativo”, acrescenta o jornal.

Houve ainda 14 queixas contra 12 agentes da PSP por práticas discriminatórias. Aliás, a PSP é a força de segurança sobre quem recaíram mais queixas, com 530 no total, das quais 126 denúncias e certidões judiciais relativas a ofensas à integridade física (agressões e maus tratos).

Apesar do aumento de queixas e de processos disciplinares, a IGAI apenas aplicou oito sanções disciplinares, um número que apesar de tudo é ligeiramente superior ao de anos anteriores (seis sanções em cada ano desde 2017).

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