Educação para o empreendedorismo

Ser empreendedor em Portugal é uma aventura. Sem apoios e sem formação, resta-lhes a felicidade de ter nascido com essas capacidades. Nas verbas da famosa bazuca ou do novo quadro comunitário de apoio devia-se integrar como prioritário o ensino e o fomento do empreendedorismo.

Nos diversos indicadores internacionais de empreendedorismo Portugal de ano para ano está sempre mal classificado, apesar da importância do tema. Encontra-se provado que o empreendedorismo promove por diversas formas o crescimento económico e social, mas também se sabe que o empreendedor assume inúmeros riscos.

Muitas vezes confunde-se empreendedorismo com a criação de empresas e postos de trabalho, mas um empreendedor é muito mais do isso. O empreendedor inova, cria oportunidades e mudanças na economia onde poucos o vislumbram e muito mais cedo que os demais. O empreendedor é um criativo por natureza, possui uma capacidade superior de planear e de direcionar ações para o cumprimento de metas.

A noção de oportunidade e de inovação está no centro do empreendedorismo, sendo que muitas vezes inovar implica “destruir” as estruturas existentes e transformar essas inovações em produtos ou serviços comercializáveis, caso contrário apenas servirão para que o empreendedor não morra de tédio. É com a chegada das inovações dos empreendedores aos mercados e a aprovação dos consumidores que se promove o crescimento económico do país.

Apesar de algumas características do empreendedor serem inatas, outras podem ser adquiridas no ambiente físico e sociocultural. Nesta vertente assume particular destaque a educação para o empreendedorismo através da escolaridade e da aprendizagem ao longo da vida, que fomente e dissemine as características do que é ser um empreendedor. E é exatamente neste ponto que Portugal falha ao contrário de alguns dos nossos parceiros europeus, como sejam por exemplo os países nórdicos.

Em diversos países a educação para o empreendedorismo começa logo nos primeiros anos de escolaridade, em conjunto com o Inglês, a língua materna e a matemática. Aprende-se a ler, escrever, contar e a pensar como um empreendedor. À medida que os alunos vão progredindo na sua escolaridade, a sua formação em empreendedorismo acompanha-os ou em disciplinas próprias ou integrados em programas curriculares de outras disciplinas. A formação para o empreendedorismo está presente em todos os níveis de ensino.

Para quem não obteve esta educação para o empreendedorismo ou pretenda formação adicional, estes países promovem com regularidade ações de formação profissional para quem já se encontra na vida ativa.

Claro que nesses países a administração educacional está preparada e mentalizada para a importância que o empreendedorismo representa e ela própria tem a preocupação de que nada falte para o seu ensino, tendo começado há muitos anos a formar e a preparar os seus professores e todo o sistema de ensino. Em todas as escolas existem professores encarregues pelo tema.

Quando chegam às universidades já com bastante formação em empreendedorismo, quem pretender é integrado em centros especializados que interagem com empresas e com associações profissionais.

Os professores de empreendedorismo deixam de lado o seu tradicional papel de palestrantes e assumem-se como moderadores e orientadores, colocando os alunos no centro do processo educacional através de métodos ativos de aprendizagem. Desta forma os alunos conseguem aprender a pensar como um empreendedor e a desenvolver habilidades próprias, pois são ajudados a pensar de forma reflexiva, criativa e são ainda ajudados a descobrir por eles próprios soluções.

Em Portugal nada disto se está a fazer ou sequer previsto. Existem muitas barreiras. O sistema está velho e desatualizado. Os professores não apresentam mentalidade empreendedora, muitos nem sabem o que isso significa, a maioria não quer saber, o Ministério não fornece formação, os programas curriculares são o que se sabe e não existem disciplinas onde se lecione empreendedorismo, com exceção de poucos cursos superiores. Também não existe formação profissional.

Ser empreendedor em Portugal é uma aventura. Sem apoios e sem formação, resta-lhes a felicidade de ter nascido com essas capacidades.

Se alguém duvida da importância do empreendedorismo para o crescimento económico e social sustentável e também da importância da interação entre sistema educativo, empreendedorismo, inovação, pesquisa e transferência de conhecimento e se souber fazer contas, deixo um repto: faça-as.

Nas verbas da famosa bazuca ou do novo quadro comunitário de apoio devia-se integrar como prioritário o ensino e o fomento do empreendedorismo no nosso país. Inspirar, estimular e aproveitar a criatividade dos alunos deveria ser obrigatório, para que mais tarde esse investimento retorne para a economia e para todos nós. Bons exemplos não faltam.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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