Pediatra Assistente? Que “luxo”!

Há entre nós muitas crianças que só são observadas por um médico, especialista ou não, em situação de urgência hospitalar ou a “pagar”.

Certamente, a grande maioria dos leitores do PÚBLICO entende que os seus filhos ou netos têm direito a um Pediatra Assistente no Serviço Nacional de Saúde. Desenganem-se, porém. Após o parto, que ocorre, felizmente, em meio hospitalar na grande maioria dos casos (público ou privado), no SNS a criança é seguida pelo Médico de Família, só voltando a ser observada por um Pediatra caso aquele especialista assim o entenda.

Vem este esclarecimento a propósito das declarações ambíguas da Direção Geral da Saúde sobre a vacinação dos jovens do 12 aos 17 anos sem comorbilidades. Umas vezes ter-se-á escrito que tal só ocorreria sob indicação de Pediatria, noutras, num sentido mais lato, sob indicação médica. Percebe-se agora melhor a perplexidade do leigo e compreende-se a abrangência da correção feita pela instância de Saúde.

Se a ambiguidade das declarações da DGS é fácil de explicar, já a questão de as crianças deverem ou não ser seguidas por um Pediatra é assunto polémico por controverso. Só aquelas com patologia? Todas as crianças e até que idade?

Tão mais questionável quando há mais de um milhão de portugueses sem Médico de Família. Ou seja, há entre nós muitas crianças que só são observadas por um médico, especialista ou não, em situação de urgência hospitalar ou a “pagar”.

Face a esta realidade, é indecorosa toda esta polémica em torno da idade de vacinação dos adolescentes e o mais que por aí virá! Não sendo minha intenção desvalorizar as consequências da pandemia, há outras situações sanitárias a requererem solução urgente, para cuja solução estamos mais habilitados em meios humanos e conhecimento.

Investir em melhorar as interfaces entre as diversas especialidades médicas (e não só) que trabalham e se cruzam no SNS é uma tarefa necessária, estimulada pela sobrecarga da pandemia infeciosa. É agora mais óbvia a vantagem em deslocar o profissional, ou grupo de profissionais, à unidade de saúde próxima da residência do doente/utente que fazer deslocar um grande número de doentes para serem avaliados/tratados por um grupo reduzido de profissionais.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Sugerir correcção
Comentar