Cabo Delgado: número de crianças sozinhas a chegar a campos de refugiados aumentou 40%

ONG Save the Children diz que há cada vez mais menores separados dos pais por causa do conflito.

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Campo de deslocados perto de Metuge Paulo Pimenta

O número de menores sozinhos a chegar aos campos de deslocados está a aumentar: em Junho, foram registados 395 menores, no final de Julho, 550 no final de Julho: um aumento de 40% nas crianças que fogem da violência em Cabo Delgado, Norte de Moçambique, segundo a organização não-governamental Save The Children.

São, em média, cinco menores sem pais ou mesmo sozinhos que chegam aos campos de deslocados onde a Save the Children está presente. Muitas destas crianças separam-se dos pais ou cuidadores enquanto fugiam dos ataques de grupos jihadistas. Outras perderam os pais.

Para este número são contadas quer menores que chegam sozinhos, quer menores que chegam sem os pais ou as pessoas que habitualmente cuidam deles, mas com outros membros da comunidade ou da sua família alargada.

A ONG conta o caso de uma dessas crianças: Luís (nome fictício) vive com um vizinho de 71 anos, depois de se ter separado da mãe e irmã durante a fuga do conflito, em que o pai foi morto.

A Save The Children conseguiu reunir 63 menores com os seus pais ou cuidadores, enquanto as restantes estão com famílias de acolhimento ou noutras soluções temporárias, diz a organização.

Mais de 336 mil crianças foram deslocadas por causa do conflito em Cabo Delgado, onde a violência continua. Pelo menos 51 crianças, na maioria raparigas, foram raptadas nos últimos doze meses.

A organização expressou a sua grande preocupação com estas crianças, que enfrentam “enormes desafios para conseguir enfrentar as necessidades mais básicas, já que lhes faltam as pessoas que normalmente as ajudariam a conseguir comida, água e abrigo”.

A Save The Children já tinha antes alertado para os sinais de trauma que muitas crianças deslocadas estavam a mostrar, incluindo recusarem-se a comer ou brincar.

A ONG britânica notou então que algumas das crianças entrevistadas têm menos de dez anos e testemunharam actos “horríveis” de violência, incluindo o assassínio dos seus pais. Por isso, alertou que estas crianças podem não recuperar se não receberem urgentemente apoio psicossocial para superar o trauma.

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