Esther Williams: os 100 anos de uma sereia

É, indubitavelmente, uma estrela singular, única, não tivessem criado propositadamente para ela um novo subgénero de filmes, os chamados aquamusicals.

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Mike Blake/Reuters

Ela era alta, de ombros largos e de sorriso encantador. Costumava apresentar-se de cabelo apanhado emoldurando seu rosto quadrado. Geralmente vestia um maiô típico dos anos 40/50, que deixava revelar as suas compridas e bem torneadas pernas. A “sereia de Hollywood”, Esther Williams, faria a 8 de Agosto 100 anos de vida (faleceu em 2013). Era do signo de Leão, fogo, mas todos sabemos que o seu elemento era a água. É, indubitavelmente, uma estrela singular, única, não tivessem criado propositadamente para ela um novo subgénero de filmes, os chamados aquamusicals. A sua fórmula mais emblemática envolve quase sempre números musicais em piscinas (vários são exemplos de natação sincronizada), maiôs e pequenas participações de vários artistas musicais, sendo produzidos em technicolor.​ De uma forma geral, não são consideradas prestigiadas produções cinematográficas e nenhum representa, nem de longe, o melhor que a Fábrica de Sonhos podia fazer em termos de musicais. Não obstante, são charmosos, reflectem o glamour da MGM, o mais glorioso dos estúdios de Hollywood, e têm algum interesse histórico dado serem tão singulares e muito bons exemplos do escapismo que Hollywood produzia.

Esther, uma rapariga californiana, estava prestes a participar nos Jogos Olímpicos de 1940, mas estes acabaram por não se realizar devido ao estouro da 2.ª Guerra Mundial. O seu sonho de se tornar campeã olímpica de natação ficou arruinado, contudo, como ela chegou a reconhecer, conseguiu consolo ao virar movie star da MGM (nada mau!). Teve a sua primeira aparição nas telas num dos filmes da xaroposa série Andy Hardy. Apesar de o filme não ter nenhum número aquático, é o único em que podemos ver Esther a nadar debaixo de água a preto e branco e com o cabelo solto. Também é um dos poucos filmes em que aparece de biquíni. Porém, a actriz só viraria protagonista no seu filme de 1944, Escola de Sereias, o seu primeiro aquamusical de entre os vários que fez ao longo da segunda metade dos anos 40 e primeira metade dos 50. O filme, de argumento pouco substancial, tem, como compensação, um colorido alegre (onde se destaca o cor-de-rosa) e um dos melhores números aquáticos da Esther, onde ela nada graciosamente ao som de Strauss. O número aquático de Escola de Sereias é um dos números mais elaborados de toda a filmografia da actriz, o que pode ser estranho, dado tratar-se do seu primeiro grande aquashow. Convém, no entanto, destacar ainda A Rainha do Mar (1952), que contém os shows aquáticos mais grandiosos de toda a sua carreira, dirigidos pelo lendário Busby Berkeley, e A Sereia Perigosa (1953), um dos seus melhores filmes, onde ela aparece a nadar juntamente com os desenhos animados Tom e Jerry.

Embora os seus filmes fossem, na maioria das vezes, sucessos comerciais, o seu último musical, A Favorita de Júpiter (1955), fracassou na bilheteira. Pouco depois, o seu contrato com a MGM acabou e Esther tentou a sua sorte como actriz dramática e fora de água, contudo sem grande sucesso. Como disse Fanny Brice: “Esther Williams? Molhada, ela é uma estrela. Seca, não é.”

Convenhamos, apesar de espirituosa, esta frase é um pouco redutora. Esther tem bastante magnetismo mesmo fora de água. Com o tempo, deixou o cinema e virou mulher de negócios, lançando colecções de fatos de banho. Provavelmente, poucos levarão a sério os seus filmes kitsch. Contudo, é impensável não ter em séria consideração a mulher para a qual foi inventado um novo subgénero cinematográfico e que, até aos dias de hoje, não teve nenhuma sucessora.

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