110 Histórias, 110 Objectos: Chico, o robô

O podcast 110 Histórias, 110 Objectos, do Instituto Superior Técnico, é um dos parceiros da Rede PÚBLICO.

No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. No quarto episódio do podcast, conhecemos o Chico, um robô que ajuda investigadores do IST a perceber como funciona o cérebro humano, juntando engenharia, neurociências e psicologia. Construído à imagem de uma criança de três anos, este robô humanóide é dos mais avançados do mundo em termos de capacidade de movimento.

Chico é o nome carinhoso (mas também tecnicamente vantajoso) do robô construído no IST pelo Instituto de Sistemas e Robótica de Lisboa (ISR Lisboa), fruto da colaboração de um consórcio internacional no projeto iCub. Chico tem quinze anos de idade mas foi desenhado para ter sempre três. Vive no IST, mais especificamente no 7.º andar da Torre Norte, do campus da Alameda (Lisboa), nas instalações do ISR Lisboa.

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Chico é um robô humanóide que ajuda investigadores do IST a perceber como funciona o cérebro humano Débora Rodrigues

Veio ao mundo para nos ajudar a perceber como funciona o cérebro humano. Chamamos-lhe Chico, mas trata-se de um iCub – uma “cria robótica” –, um robô humanóide, com características físicas parecidas com uma criança humana, que é dos mais avançados do mundo em termos de capacidade de movimento. “Foi desenvolvido para estudar como é que o cérebro humano funciona, como é que os seres humanos aprendem, como é que o desenvolvimento das crianças se processa”, explica José Santos-Victor, professor do departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores e presidente do ISR Lisboa.

Quando falamos em Chico estamos a referir-nos a um robô com 53 motores móveis na cabeça, braços, mãos, cintura e pernas, que inclui câmaras com desempenho de movimento semelhante aos humanos, capacidades auditivas estéreo e sensores tácteis. Uma máquina complexa que executa expressões faciais realistas e movimentos com as mãos, cintura, braços e olhos. Para além do Chico português, do Técnico, há cerca de 30 em todo o mundo, desenvolvidos no âmbito do iCub, um consórcio de investigação internacional de origem europeia. Em Portugal foi desenhada a cabeça do robô, assim como o aspecto exterior das cascas e das suas expressões e algumas funções cognitivas ligadas à aprendizagem, à visão e à manipulação.

E como é que o Chico nos pode ajudar a perceber melhor o cérebro dos humanos? O projecto reúne pessoas da engenharia, das neurociências e da psicologia, que desenham e analisam hipóteses científicas assentes na interacção física do robô com o mundo. “O nosso cérebro é como é porque está agarrado a um corpo e esse corpo movimenta-se no mundo. O cérebro artificial [do Chico] tinha que ter também um corpo, tinha que agir no mundo e surgiu a necessidade de fazer este robô”, conta José Santos-Victor.

“Muito do que ele faz não é pré-programado – e isso para nós é importante. Nós não programamos a vida do robô. Ele vai interagindo com o mundo e as coisas vão-se sucedendo. E às vezes temos que tentar interpretar um comportamento de que não estamos à espera, perceber por que é que tomou aquela decisão ou reagiu de determinada maneira”. Procura-se respostas a perguntas como “Como é que o cérebro de uma criança está a decidir ter um determinado comportamento e não outro?”

“Ao criar hipóteses, tenta-se perceber quais são os algoritmos que poderiam recriar aquele mesmo comportamento numa máquina artificial. Podemos ver se o nosso corpo robótico, com aqueles algoritmos, reproduz aquele comportamento. Se assim for, podemos perceber melhor como é que esses comportamentos surgem”.

O Chico, ou iCub, tem ainda outra característica distintiva: é um livro aberto. Ou, por outras palavras, é um projecto open source (de plataforma aberta), sendo pública a informação sobre as suas componentes mecânicas, os circuitos, o software e os algoritmos implementados. “Cruzamos e trabalhamos por cima dos resultados de outros investigadores. Conseguimos ter uma comunidade bastante alargada de pessoas que estão a tentar perceber como funciona a cognição humana e em que a infraestrutura principal experimental é igual para todos “, explica Santos-Victor.

O Chico não foi, contudo, o primeiro robô a animar os corredores e a investigação do ISR Lisboa. Tudo começou com o já reformado Baltazar, constituído por uma cabeça, um tronco, uma mão e um braço. Mas isso talvez seja uma história para outro programa.

O podcast 110 Histórias, 110 Objectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. É um programa do Instituto Superior Técnico com realização de Marco António (366 ideias) e colaboração da equipa do IST composta por Filipa Soares, Sílvio Mendes, Débora Rodrigues, Patrícia Guerreiro, Leandro Contreras, Pedro Garvão Pereira e Joana Lobo Antunes.

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