À espera do museu de arte moderna

“A pessoa em questão não tem embocadura para aquele instrumento”, disse o pintor Abel Manta. Almada Negreiros, referindo-se também à nomeação em 1959 do pintor Eduardo Malta para director do Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC), declarou: ”Gravíssimo erro político, e é tudo quanto até hoje eu sei de política.” Cito de memória estas duas respostas a um inquérito a artistas portugueses que naquela ocasião Artur Portela e eu promovemos a partir do Diário de Lisboa. A Censura proibiu a publicação do inquérito, receosa, talvez, que houvesse nele uma perigosa ameaça ao regime, ou tão-somente por as respostas, todas contrárias à escolha, poderem desagradar ao Dr. Salazar, que patrocinara Malta. Um abaixo-assinado reclamando a anulação da nomeação, assinado por quantos nessa altura constituíam o nosso melhor escol cultural, também foi censurado. A gestão de Malta deu razão às preocupações dos subscritores e o Museu passou a ser cada vez menos de arte contemporânea. No catálogo do Museu, publicado pelo Ministério da Educação Nacional em 1965, Dulce Rumina Malta, mulher do director, considerou que o marido seria o salvador das artes pátrias, cercadas, dentro e fora, por artistas modernistas de filiação judaico-comunista, autores de arte degenerada, como diria Goebbels.

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