Canções na pastelaria

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Zeca Afonso DR

Se viver também é pensar, talvez não seja despropositado afirmar que alguns livros ajudam a viver. Para evitar confusões, não são meios para ou instrumentos, mas coisas que escolhemos para companhia. Nos últimos meses, dois têm reclamado essa condição. Experimentum Humanum — Civilização Tecnológica e Condição Humana de Hermínio Martins (Relógio D’Água) e O Nascer do Mundo nas suas Margens de Silvina Rodrigues Lopes (Edições do Saguão). O primeiro, obra de um pensador maior da filosofia e da sociologia da ciência, guarda reflexões, estudos, leituras que iluminam aquilo que estamos a fazer ou já fizemos ao mundo e à condição humana. Em momentos de ansiedade e confusão, volto às suas páginas e palavras. Nelas, penso e enfrento melhor a automação, os efeitos da biotecnologia, a sombra do eugenismo, a deriva do melhoramento artificial do ser humano. E sou grato ao seu autor (e ao Professor José Luís Garcia, do Instituto Ciências Sociais, que mo deu a conhecer). A obra de Silvina Rodrigues Lopes parece movida pelos mesmos anseios, com outro estilo e outras palavras. A autora pensa a realidade do mundo com os textos da literatura e as imagens das artes (de Herman Melville a Godard), afirmando a irredutível singularidade do humano, a indeterminabilidade da existência, o desprendimento para a liberdade. Com um ponto de vista heterodoxo, deixa-nos textos surpreendentes que solicitam incessantes regressos.

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