Líbano

Os rostos de quem vive sob a névoa da explosão que devastou Beirute

Tatiana Hasrouty perdeu o pai na explosão: "O meu pai era a minha alma, e agora não está lá." REUTERS/Emilie Madi
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Tatiana Hasrouty perdeu o pai na explosão: "O meu pai era a minha alma, e agora não está lá." REUTERS/Emilie Madi

Um ano depois da explosão, o trauma ainda paira em Beirute. O incidente causou 218 vítimas mortais e deixou parte da cidade irreconhecível, levando a protestos contra a corrupção e exigências à classe política para que assumisse responsabilidades pelo sucedido. 

A Reuters voltou à cidade libanesa para captar o que por lá se vive. Encontrou Emmanuelle Lteif Khnaisser, que estava em trabalho de parto quando a explosão aconteceu; Israa Seblani e Ahmad Subeih, que estavam a fazer uma sessão fotográfica de casamento; e Chaza Akik, que estava no telhado do seu prédio, no olho do furacão, no momento da explosão: "Não senti, não ouvi, não vi." 

O pai de Tatiana Hasrouty morreu na explosão. "Estava a dormir quando a explosão aconteceu, foi como se o meu local de descanso e segurança deixasse de existir."
O pai de Tatiana Hasrouty morreu na explosão. "Estava a dormir quando a explosão aconteceu, foi como se o meu local de descanso e segurança deixasse de existir." REUTERS/Emilie Madi
Anwar Ramadan, 30, num café destruído pela explosão. "Os meus ouvidos explodiram e sinto-me tonta a maior parte do tempo. Ainda estou a tratar os ouvidos, mas não estão a curar. Tenho dores o tempo todo."
Anwar Ramadan, 30, num café destruído pela explosão. "Os meus ouvidos explodiram e sinto-me tonta a maior parte do tempo. Ainda estou a tratar os ouvidos, mas não estão a curar. Tenho dores o tempo todo." REUTERS/Emilie Madi
Roy Sawma olha para a tatuagem com a cara do seu primo Joe Noun, vítima da explosão.
Roy Sawma olha para a tatuagem com a cara do seu primo Joe Noun, vítima da explosão. REUTERS/Emilie Madi
Emmanuelle Lteif Khnaisser estava em trabalho de parto quando a explosão partiu os vidros do quarto de hospital. O parto de George aconteceu à luz de uma lanterna num corredor de um hospital destruído.
Emmanuelle Lteif Khnaisser estava em trabalho de parto quando a explosão partiu os vidros do quarto de hospital. O parto de George aconteceu à luz de uma lanterna num corredor de um hospital destruído. REUTERS/Emilie Madi
O treinador libanês Ramzi Baaklini ficou lesionado devido à explosão.
O treinador libanês Ramzi Baaklini ficou lesionado devido à explosão. REUTERS/Emilie Madi
Shady Rizk, um sobrevivente ferido, segura o seu cão, na sua casa.
Shady Rizk, um sobrevivente ferido, segura o seu cão, na sua casa. REUTERS/Emilie Madi
Hala Makhlouf, 38 anos, na sua casa, que ficou danificada devido à explosão. "Voltei a 30 de Março e demorei 3 a 4 semanas para poder usar o meu quarto, a minha cama, e até a dormir. Qualquer barulho me faz saltar. Ficas em medo permanente, sempre alerta."
Hala Makhlouf, 38 anos, na sua casa, que ficou danificada devido à explosão. "Voltei a 30 de Março e demorei 3 a 4 semanas para poder usar o meu quarto, a minha cama, e até a dormir. Qualquer barulho me faz saltar. Ficas em medo permanente, sempre alerta." REUTERS/Emilie Madi
Khadija Dia, 30, estava a trabalhar como técnica de emergência médica quando a explosão aconteceu. "Não me imagino a sair mais, não aguento ver pessoas a sofrer, não consigo ver as casas destruídas de Beirute. Só quero ficar em casa, não consigo ver pessoas. Não há palavras para descrever o trauma de não conseguires viver no teu próprio país."
Khadija Dia, 30, estava a trabalhar como técnica de emergência médica quando a explosão aconteceu. "Não me imagino a sair mais, não aguento ver pessoas a sofrer, não consigo ver as casas destruídas de Beirute. Só quero ficar em casa, não consigo ver pessoas. Não há palavras para descrever o trauma de não conseguires viver no teu próprio país." REUTERS/Emilie Madi
Mohamad Cherry na sua casa, destruída pela explosão. "Sinto-me um estranho na minha casa. É como se estivéssemos a reviver o que aconteceu. É difícil esquecer porque estou a viver na mesma casa onde estava quando tudo aconteceu. E a minha zona de conforto foi invadida. Tentei reconquistar a minha casa: fiz mudanças na decoração, comprei plantas... Tentei encontrar uma forma de trazer felicidade para dentro dela."
Mohamad Cherry na sua casa, destruída pela explosão. "Sinto-me um estranho na minha casa. É como se estivéssemos a reviver o que aconteceu. É difícil esquecer porque estou a viver na mesma casa onde estava quando tudo aconteceu. E a minha zona de conforto foi invadida. Tentei reconquistar a minha casa: fiz mudanças na decoração, comprei plantas... Tentei encontrar uma forma de trazer felicidade para dentro dela." REUTERS/Emilie Madi
Ibrahim Hoteit, representante das famílias das vítimas da explosão.
Ibrahim Hoteit, representante das famílias das vítimas da explosão. REUTERS/Emilie Madi
Israa Seblani, médica libanesa, a noiva que foi apanhada pela explosão enquanto fazia uma sessão fotográfica do casamento.
Israa Seblani, médica libanesa, a noiva que foi apanhada pela explosão enquanto fazia uma sessão fotográfica do casamento. REUTERS/Emilie Madi
Noelle Jouane, gerente de um programa de saúde mental, numa entrevista com a Reuters.
Noelle Jouane, gerente de um programa de saúde mental, numa entrevista com a Reuters. REUTERS/Emilie Madi
Chaza Akik, professora investigadora assistente, no telhado de sua casa. "Estava no olho do furacão. Não senti, não vi, não ouvi. Os que viram e ouviram estão a sofrer mais. Depois de três ou quatro semanas da explosão decidi vir ao telhado e conclui que talvez tivesse amnésia e o meu cérebro tivesse bloqueado de propósito a explosão para me proteger. Por isso, acho que o meu cérebro me impede de pensar no que aconteceu, mas o meu corpo ainda guarda essa memória."
Chaza Akik, professora investigadora assistente, no telhado de sua casa. "Estava no olho do furacão. Não senti, não vi, não ouvi. Os que viram e ouviram estão a sofrer mais. Depois de três ou quatro semanas da explosão decidi vir ao telhado e conclui que talvez tivesse amnésia e o meu cérebro tivesse bloqueado de propósito a explosão para me proteger. Por isso, acho que o meu cérebro me impede de pensar no que aconteceu, mas o meu corpo ainda guarda essa memória." REUTERS/Emilie Madi
Sophie Ghaziri, que agora vive fora de Beirute, segura no seu gato.  "Só quando paramos é que tivemos tempo para processar o que nos tinha acontecido. Foi aí queos ataques de pânico começaram. Pensei que o meu coração ia sair-me do peito."
Sophie Ghaziri, que agora vive fora de Beirute, segura no seu gato. "Só quando paramos é que tivemos tempo para processar o que nos tinha acontecido. Foi aí queos ataques de pânico começaram. Pensei que o meu coração ia sair-me do peito." REUTERS/Emilie Madi