Cancro do pulmão e a inovação em radioterapia

A integração das novas modalidades avançadas de radioterapia, nas quais se destaca a CyberKnife, conjugadas com o aparecimento de novos tratamentos sistémicos, permite-nos a obtenção de níveis de controlo tumoral nunca antes alcançados

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Unsplash/Robina Weermeijer

O tratamento do cancro do pulmão tem vindo a mudar de forma radical na última década. O vasto conhecimento da biologia destes tumores permite-nos, hoje, encará-los de forma distinta. É neste contexto que a radioterapia tem vindo a introduzir ganhos na eficácia do tratamento do cancro do pulmão. No Dia Mundial do Cancro do Pulmão, que se assinala este domingo, 1 de Agosto, a palavra é de esperança. 

Atualmente, o entendimento dos fenómenos biológicos de interação entre a radiação e os tecidos orgânicos levaram à obtenção de ganhos terapêuticos no tratamento de inúmeros tumores e entre eles o cancro do pulmão.

O papel adicional que a radiação pode desempenhar no desencadear de cascatas de resposta imune contra o tumor é agora melhor conhecido. Sabe-se que, dessa forma, podemos aumentar a eficácia desta terapêutica sem aumento dos efeitos adversos no doente.

Também na vertente tecnológica se observaram desenvolvimentos notáveis no tratamento do cancro do pulmão. Para começar, a importância da integração do movimento respiratório no plano de tratamento em radioterapia revelou-se de extrema importância. Esta técnica recente permite-nos aumentar a dose a efectuar no tumor, com menor agressão do tecido pulmonar saudável circundante.

Neste enquadramento têm vindo a surgir soluções tecnológicas em radioterapia que integram estes conceitos. A visualização do tumor ou da área a tratar, permite acrescentar precisão no tratamento em múltiplas áreas e em particular no cancro do pulmão.

Pode este fator influenciar o tratamento efectuado?

Dado que o movimento tumoral adquire, frequentemente, trajetórias complexas, o ajustamento destes movimentos, de forma a garantir que a lesão esteja sempre dentro do campo de irradiação, exige medidas extremas. Tais medidas passam pela possibilidade do feixe de tratamento seguir de forma contínua o volume tumoral. Dessa forma, podemos assegurar que o tumor é adequadamente tratado no decurso da sessão de radioterapia. Permite-nos, também, garantir que incluímos a menor quantidade possível de tecido pulmonar saudável quando efetuamos o tratamento.

É um exemplo deste tipo de solução a CyberKnife, um equipamento de radiocirurgia robótica utilizado para o tratamento de diferentes tipos de tumores, que permite focalizar altas doses de radiação no tumor, minimizando os danos aos tecidos adjacentes, devido à sua precisão milimétrica.

A tecnologia que possui permite-lhe seguir o tumor de forma contínua ao longo de todo o tratamento. Esta possibilidade de visualização contínua reduz à mínima expressão qualquer possibilidade de erro devido a movimentos inesperados do tumor.

Estas inovações tecnológicas vieram abrir-nos novas portas na abordagem do cancro do pulmão. Fruto do sucesso das inúmeras terapêuticas sistémicas atualmente existentes — como o próprio nome indica atuam em todo o organismo — e, consequente, aumento da sobrevida, é-nos colocada cada vez mais a questão de podermos tornar a tratar doentes que até agora não tinham indicação para tal.

Será este um mito, ou cada vez mais uma realidade?

Neste particular a Cyberknife tem proporcionado soluções diferenciadas tornando inúmeras vezes esta possibilidade — de tratamentos em fases mais avançadas da doença — numa realidade, que outras soluções tecnológicas não poderiam ter alcançado.

O facto de ser constituída por um acelerador linear montado num braço robótico, permite-lhe atingir graus de liberdade através de posições só possíveis de obter com esta configuração. Com uma distribuição espacial dos feixes de tratamento única, permite-nos invariavelmente constituir uma solução de tratamento válida com baixa toxicidade em contraponto com outros tipos de soluções.

Em conclusão, a integração das novas modalidades avançadas de radioterapia, nas quais se destaca a CyberKnife, conjugadas com o aparecimento de novos tratamentos sistémicos, permite-nos a obtenção de níveis de controlo tumoral nunca antes alcançados a que se associam baixos níveis de efeitos laterais mesmo em fases avançadas desta doença. 

A mensagem para os doentes é por isso fundada de esperança, mas devemos ter sempre presente que estamos perante o segundo tipo de cancro mais diagnosticado em todo o mundo. A sua deteção e tratamento precoces continuam a ser os pilares fundamentais na luta contra esta doença.

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