Este álbum de memórias é a “cultura pop das famílias portuguesas” em retratos

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São três famílias distintas que “podiam muito bem ser uma só”, numa espécie de álbum de memórias que mistura ficção e realidade. Assim se compõe o projecto fotográfico de Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes, três jovens recém-licenciados em Fotografia pela Escola Superior de Media Artes e Design. A uma ideia que surgiu na viagem de metro em direcção à faculdade, juntou-se o “delírio do artista” e assim nasceu a Traditional Trends, conta Inês, em entrevista ao P3.

O grupo correu para casa e recolheu “as fotografias antigas mais icónicas” que conseguiu encontrar, de forma a criar “um apanhado do que seria uma família da geração dos nossos avós”, conta a jovem. Queriam fazer de conta que eram “todos irmãos”, entrelaçar memórias que partilham uma cultura e uma linha temporal, mas cujos protagonistas não se conhecem. Porque a fotografia é mesmo assim, explica Inês: “Podemos criar coisas absolutamente irreais e torná-las verdade.” E foi assim que começou.

“Tínhamos diferentes tipos de imagens, mas que juntas resultavam bem porque não há mesmo como saber se eram famílias separadas ou não, podem ser e resultar perfeitamente como uma família só”, acrescenta João. Isto deve-se a um punhado de “pequenos rituais que vamos traçando ao longo da vida” que, mesmo com o avanço dos tempos e o culto do indivíduo, se vinca ainda na cultura familiar. Aqui acrescenta-se “um ponto de equilíbrio que permite reflectir” acerca da cultura de massas, uma crítica à similaridade excessiva entre pessoas que partilham uma realidade e que, na visão destes jovens, era ainda mais notória no século passado.

Para marcar o avanço dos tempos, seleccionaram fotografias que retratam “questões absolutamente estruturais e tradicionais na família”, como o casamento, a religiosidade, “o papel dos patriarcas e das matriarcas”, misturando-as com a modernidade e a “individualidade de cada um”, representada através das tatuagens, piercings, cabelos coloridos e, até, tecnologias. Porém, a ideia de “memória colectiva” continua presente, já que, “apesar de, cada vez mais, sermos seres individuais, há coisas que são comuns à sociedade, a um grupo de pessoas que partilha uma cultura”, afirma Inês.

Inspirados nas correntes artísticas kitsch e camp, utilizaram técnicas que misturam a pintura, desenho e bordado com a encenação, colagem e sobreposição “em camadas” das fotografias analógicas com fotografias digitais, revela João. Assim, criaram um novo conceito de tempo, algo entre o “tempo que que já está morto, mas que está congelado nas imagens” familiares que seleccionaram e o “tempo do agora” representado pelas fotografias recolhidas nos locais das memórias originais.

Este é um tempo marcado pelas cores e pela irreverência, uma “junção” ficcional do presente e do passado que traz à ribalta “a cultura pop das famílias portuguesas com que todos nos conseguimos relacionar”.

Texto editado por Amanda Ribeiro

Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes
Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes
Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes
Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes
Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes
Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes
Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes
Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes
Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes
Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes
Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes
Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes
Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes
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Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes
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Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes
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Inês Trindade, João Ferreira e Kenza Lopes
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