Covid-19: Crioulo e canto cigano em música para vencer vírus que afastou os abraços

Acção dos Médicos Sem Fronteiras culminou num vídeo com a canção Nu ten ke previni, em crioulo e foi filmado nas ruas da Cova da Moura e da Alta de Lisboa.

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Cova da Moura Nuno Ferreira Santos

O crioulo cabo-verdiano e guineense, que se fala na Cova da Moura, uniu-se ao canto cigano da Alta de Lisboa para um vídeo contra a covid-19, culminando uma acção dos Médicos Sem Fronteiras que promoveu a saúde nestes bairros vulneráveis. A canção intitulada Nu ten ke previni (Temos de prevenir) juntou quatro artistas que moram nestes bairros da Área Metropolitana de Lisboa (AML), objecto da intervenção dos Médicos Sem Fronteiras (MSF), e foi filmado nas ruas da Cova da Moura e da Alta de Lisboa.

A iniciativa dos MSF faz parte do projecto desta organização de resposta de emergência à pandemia em Portugal, que decorreu entre Março e Julho, e englobou diversas actividades de promoção de saúde em bairros vulneráveis na região de Lisboa e Vale do Tejo, em cooperação com associações locais e multiplicadores de saúde das próprias comunidades, maioritariamente de ascendência africana e cigana.

João Antunes, representante dos MSF em Portugal, disse à agência Lusa que a pandemia revelou dificuldades maiores nestas populações mais vulneráveis, nomeadamente em receber, adaptar e implementar as regras básicas, como o distanciamento social, o uso de máscara e a lavagem de mãos.

“Em certos bairros da região da grande Lisboa, estas medidas e estas acções envolvem um outro tipo de preparação e de passagem de mensagem. São zonas onde muitas vezes há uma grande concentração de pessoas a viver em condições precárias”, afirmou.

Os MSF optaram por seguir a directriz da Direcção-Geral da Saúde (DGS), mas com “uma adaptação ajustada e específica, tendo em conta certas condições, certas pessoas e certos núcleos de pessoas que vivem em determinada situação”.

“O segredo da intervenção foi trabalhar com as comunidades, com as associações que já estão organizadas e já existem — a Nasce e Renasce (Alta de Lisboa) e o Moinho da Juventude (Cova da Moura, Amadora)” e os mediadores. As necessidades das populações foram identificadas e encaminhadas, ao nível da saúde física, mas também mental, em complemento com a doação de kits de higiene e de máscaras, assim como de materiais de prevenção e controlo do contágio.

Ao longo deste trabalho, os elementos dos MSF foram identificando a música como um elemento aglomerador e sempre presente. “Facilmente temos acesso à música em qualquer lado onde estamos e pensámos que poderia ser uma forma de passar essa mensagem e nada melhor do que através de artistas residentes nestes bairros”, explicou.

O cenário do vídeo da música Nu ten ke previni foi precisamente as ruas destes bairros e os protagonistas alguns dos artistas que lá vivem, como Elisa Varela, Di Tchapas, Ivo Guerreiro e General Mucuenha.

No vídeo, que já reúne milhares de visualizações nas redes sociais, os artistas insistem na necessidade da prevenção, mesmo numa altura em que o desconfinamento se aproxima, e deixam mensagens como: “É melhor prevenir do que estar infectado, numa cama de hospital e acabar enterrado”.

“Não foi fácil ficar longe do teu abraço, mas a distância social exigia espaço”, cantam os artistas, passeando pelas ruas dos dois bairros, onde os panos africanos fazem parte do cenário, assim como pinturas de arte urbana.

Desta forma musical os MSF assinalaram o final da intervenção nestes bairros, deixando uma mensagem: “Ainda estamos na situação que estamos e ainda temos que tomar as precauções que temos de tomar e ainda temos um tempinho pela frente”, disse João Antunes.

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