Um protesto e meio segundo: o drama de Antoine Launay em Tóquio

Luso-francês falhou a final da canoagem slalom por 43 centésimos. Ainda esperou por um protesto apresentado, mas foi indeferido e ficou com um 11.º lugar nos Jogos Olímpicos.

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LUSA/TIAGO PETINGA

Não foi imediata a descarga emocional de Antoine Launay após competir nas meias-finais da canoagem slalom nos Jogos Olímpicos de Tóquio. O canoísta português tinha sido 11.º na descida (apuravam-se dez para a final), mas ainda não queria falar. Estava à espera de um protesto apresentado contra um dos que tinha ficado à sua frente, o australiano Lucien Delfour – uma penalização contra ele e Launay passava a final. Encostado às grades da zona mista, procurava pelo Centro de Canoagem de Kasai imagens do seu treinador, Peri Guerrero. A final começava dali a pouco e Launay estava ansioso.

Torrecillas aproximou-se devagar, com os braços em baixo e não era preciso dizer mais nada. Não deu em nada o protesto que, se tivesse sido deferido, teria penalizado Delfour em 50 segundos. Launay fez o 11.º melhor tempo entre os 20 semifinalistas, com 98,88s (sem qualquer penalização na manga), mais 0,43s que o último dos apurados, o sueco Erik Holmer. Quando o afastamento foi uma evidência, Launay só conseguiu dizer duas palavras. “Difícil. Muito difícil.” E começou a soluçar e a olhar para o chão, sem se fixar em nada.

Atrás de si, um adversário italiano, Giovanni de Gennaro, um antigo campeão do mundo, encarava a final falhada à sua maneira, umas vezes sentado à beira da pista de slalom, outras vezes deitado no chão, outras vezes a falar com os jornalistas italianos. Quando estava no chão, cinco voluntários olímpicos aproximaram-se dele e foram ver se tinha febre.

À segunda tentativa, Launay, um luso-descendente nascido em Toulouse, conseguiu ser um pouco mais articulado, mas o seu rosto, mesmo coberto por uma máscara, era bem mais expressivo do que as poucas palavras que conseguiu dizer, frases curtas e pausadas. “Difícil… Fiz tudo para isto… Faltou um pouco de velocidade para a final… Não posso jogar, eu sou um jogador… Faço tudo, estava tudo preparado, estava tudo perfeito… Tudo preparado.” Outra vez a palavra que é quase igual em francês e em português. “Difícil. Dificile. Queria jogar na final.”

O protesto rejeitado também contribuiu para a alta emotividade de Antoine Launay, que terá ficado cerca de 20 minutos à espera da decisão dos juízes. Dizia até com alguma esperança a adversários que passavam, “vais ver que ele leva com 50”. Um deles, o alemão Hannes Aigner (que seria medalha de bronze) até lhe desejou boa sorte para a final. Não levou, mas também ficou longe do pódio que seria ocupado no lugar mais alto pelo checo Jiri Prskavec.

A competir por Portugal desde 2014, Launay, de 28 anos, tem tido vários resultados de destaque numa especialidade da canoagem que não é fácil de treinar e que exige condições muito específicas. Mas Launay, diz o treinador Peri Guerrero, é um atleta pelo qual vale a pena fazer o esforço. “Ele esteve muito bem, sem penalizações, fica às portas da final, à frente de países que estavam muito à frente. Chegou aos Jogos na melhor condição possível”, comentou o técnico espanhol.

Tinham passado já alguns minutos desde que o seu destino em Tóquio tinha sido confirmado, e já não faltava assim para a manga que daria medalhas. Launay nem sequer conseguiu responder à pergunta sobre se gostaria de ir aos Jogos Olímpicos em Paris, capital do país onde nasceu. “Não é uma pergunta adequado a alguém que ficou à porta de uma final”, comentou Peri Guerrero. “Mas ele tem condições para isso.” Para Antoine Launay, responder a essa pergunta era apenas uma coisa: “Difícil.”

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