Hospital de São João com quebra de 9% nas dádivas de sangue e de 4% nos dadores

Responsáveis hospitalares apelam ao reforço das dádivas de sangue, que caíram em tempo de pandemia, e lembram que todos os tipos de sangue são necessários.

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A falta de sangue pode levar, no limite, ao adiamento de cirurgias Rui Gaudêncio (arquivo)

O Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, teve este ano uma quebra de 9% no número de dádivas de sangue e de 4% nos dadores inscritos comparativamente a 2019 por força da pandemia, foi esta quinta-feira revelado.

“Sangue não se compra e, não se comprando, depende da boa vontade de alguns, daqueles que sabem que têm algo que faz falta a outros. Se fosse um bem negociável, não havia esta preocupação, mas é um bem escasso que depende da solidariedade”, afirmou Cristina Neves, médica do serviço de Imunohemoterapia do CHUSJ.

Entre Janeiro e Julho deste ano foram 12.334 os dadores inscritos naquela unidade hospitalar, o que comparativamente com 2019, em que eram 12.913, representa uma quebra de 4%.

No mesmo período deste ano, foram ainda realizadas 9.243 dádivas de sangue, menos 9% do que no ano antes da pandemia, em que foram 10.103.

Em declarações à agência Lusa, Cristina Neves disse que as quebras são reflexo não da quebra de solidariedade, mas do “medo” que muitos dadores tiveram em se deslocar às instalações do hospital devido à pandemia da covid-19, principalmente depois do Natal, período em que o número de novos casos de contágio pelo SARS-CoV-2 aumentou exponencialmente. 

“Tudo isto motivou um decréscimo de dadores e de colheitas”, disse, para acrescentar que “em período de pandemia, a dádiva de sangue assume ainda um papel mais crucial, porque são menos a doar, são menos a gastar porque entram menos doentes, mas, quando entram, gastam muito mais”. De resto, a médica refere ter presenciado casos nas urgências que “já não via há muitos anos”.

Apesar dos apelos do hospital para a dádiva de sangue, “a resposta não tem sido a desejada”.

Com uma reserva de sangue do tipo A positivo (A+) para oito dias, do tipo A negativo (A-) para sete dias e meio, do tipo O positivo (O+) para 14 dias e meio, e de O negativo (O-) para 15 dias e meio, Cristina Neves apelou para a necessidade de se doar sangue.

“Todos os tipos de sangue são necessários porque não sabemos o que pode acontecer. Temos de estar preparados para os doentes que já estão cá dentro, mas também para todos aqueles que por uma situação urgente têm de recorrer a uma urgência”, salientou.

Ainda que a reserva de sangue seja renovada diariamente, “não se repõe à velocidade que se gasta”. “Obviamente que podemos entrar numa reserva que cai em números de que não gostamos”, afirmou a médica, salientando que o Hospital de São João “não está habituado a isso”.

“Sentimos mais esta falta porque não estávamos acostumados. No hospital sempre tivemos boas reservas, nunca adiámos cirurgias e queremos apelar para que não tenhamos que tomar essas medidas, que já não tomamos há décadas”, sublinhou.

À Lusa, a clínica disse ainda que o acesso ao banco de sangue do Hospital de São João está “muito facilitado” e que não é necessário entrar nas instalações, uma vez que todo o processo de dádiva decorre no exterior da infra-estrutura hospitalar e com todas as medidas de higiene e segurança.

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