Bolsonaro proferiu 1682 declarações “falsas” ou “enganosas” sobre o coronavírus só em 2020

Relatório da ONG Artigo 19 diz que as palavras do Presidente do Brasil “agravaram os números de infecções e geraram uma grande crise de informação”.

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Bolsonaro promoveu “remédios caseiros espúrios para prevenção ou cura do vírus”, denuncia a ONG Artigo 19 ADRIANO MACHADO/Reuters

Um relatório da ONG Artigo 19, organização internacional que defende a liberdade de expressão e o direito à informação, revelou que o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, proferiu 1.682 declarações “falsas” ou “enganosas” sobre o coronavírus só em 2020, contribuindo para o agravamento da crise de saúde pública provocada pela pandemia no país.

“Em alguns casos, a desinformação vem de indivíduos que ocupam cargos relevantes - incluindo chefes de governo, como Jair Bolsonaro - geralmente através das suas contas pessoais, não oficiais, nas redes sociais. Estas pessoas têm um grande impacto na divulgação dessa desinformação”, explica o relatório, que também aponta o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, como “o maior divulgador de desinformação sobre a covid-19.”

O texto cita algumas das frases mais polémicas que Bolsonaro lançou durante a pandemia, que já causou mais de 553 mil mortes no Brasil, como a sua definição da doença como uma “gripe”, ou a promoção de discursos contra as vacinas e o confinamento.

De acordo com a Artigo 19, as declarações do Presidente brasileiro “agravaram os números de infecções e geraram uma grande crise de informação com os discursos altamente polarizados”, alguns deles semelhantes aos de outros líderes políticos, promovendo “remédios caseiros espúrios para prevenção ou cura do vírus”, e mensagens odiosas contra outras nacionalidades que “se traduzem em discriminação e violência no mundo real.”

O relatório, divulgado pelo jornal brasileiro O Globo, detalha que desde Janeiro de 2019, quando Bolsonaro assumiu a presidência, até a crise de saúde pública atingir o seu nível mais elevado, já em 2021, o Presidente brasileiro fez 2.187 declarações “falsas” ou “distorcidas”.

Em matéria de liberdade de informação, a ONG denunciou mais de 460 episódios em que Bolsonaro ou os seus ministros fizeram declarações públicas a atacar os profissionais dos media, que posteriormente resultaram em “assédio e acções judiciais contra jornalistas”.

“Este nível de agressão pública não era visto desde o fim da ditadura militar. A crescente hostilidade social contra a imprensa e os jornalistas e os seus efeitos não devem ser subestimados”, refere o relatório.

“Nos últimos cinco anos, o Brasil passou de ser um dos países com as melhores pontuações do mundo a um estado com uma crise de democracia e de liberdade de expressão, e agora também de saúde pública. O Brasil é a perfeita avalanche contemporânea de problemas de liberdade de expressão, populismo, autocracia, desinformação, desigualdade severa e controlo tecnológico. A pandemia consolidou as tendências observadas no ano passado”, denuncia a Artigo 19.

 
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