Confissão de demónios vários

O problema não era o que fazia, era uma criança bem-comportada em casa e na escola; o que me preocupava realmente eram os meus pensamentos. Não controlava tudo aquilo que pensava, ou mais do que pensar, aquilo que imaginava que os meus pensamentos pudessem causar.

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Nunca entrei num confessionário. Explicaram-me em criança, não me lembro quem, que só aqueles que tivessem a primeira comunhão ou o crisma se podiam confessar ao senhor padre. E eu, que só fui baptizada porque a minha mãe, apesar de não ser católica, acreditava na convicção com que a minha avó dizia “se não baptizares a criança, ainda de te morre e não a deixam entrar no Céu, nunca será sequer um anjinho”, acabei por ser banhada na pia sagrada da capelinha da Cova da Piedade, vestida de branco e com a boca bem aberta de choro, onde poderá ter entrado alguma água benta, como comprovam as fotografias desse dia.

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