Macron reconhece “dívida” de França à Polinésia Francesa por três décadas de testes nucleares

Um quarto de século depois do último ensaio nuclear no Pacífico, o Presidente francês prometeu “verdade e transparência” e comprometeu-se a agilizar as reparações aos polinésios afectados pela radioactividade.

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Na primeira visita à Polinésia Francesa, o Presidente francês reconheceu o “impacto sobre o meio ambiente e a saúde” dos testes nucleares HANNAH MCKAY/Reuters

O Presidente francês, Emmanuel Macron, prometeu esta quarta-feira levantar “a sombra que paira” sobre a relação entre a França e a Polinésia Francesa. O território ultramarino de França teve um papel fundamental no desenvolvimento nuclear do país europeu que, entre 1966 e 1996, ali realizou quase 200 testes nucleares. Embora sem pedir oficialmente desculpa, Macron reconheceu a “dívida” da França para com as ilhas do Sul do Pacífico, que permitiu ao país alcançar o estatuto de potência nuclear.

Entre 1966 e 1996, um total de 193 testes nucleares foram realizados nos atóis de Moruroa e Fangataufa, alguns com bombas de maior potência do que a bomba nuclear lançada em Hiroshima em 1945. Mais de 100 mil cidadãos foram expostos à radioactividade.

Um quarto de século depois do último ensaio nuclear, na sua primeira visita às ilhas, Macron prometeu num discurso em Papeete, no Tahiti, “verdade e transparência” sobre os testes nucleares, “que não podemos dizer que foram limpos”. Mas o chefe de Estado francês não chegou a pedir desculpa pelos testes que, refere, permitiram ao país ter o estatuto de potência nuclear e o consequente peso político e geoestratégico.

Macron garantiu que Paris não procurou ocultar a informação da população local: “Os militares [que realizaram os ensaios] não mentiram. Correram os mesmos riscos”, disse. Por outro lado, também reconheceu que os mesmos ensaios provavelmente não teriam sido realizados em França. “Realizámo-los aqui, porque [a Polinésia Francesa] estava mais longe, porque estava perdida no Pacífico e não teria as mesmas consequências”, continuou.

Mas o Presidente francês reconheceu o “impacto sobre o meio ambiente e a saúde” de três décadas de ensaios nucleares. Para reparar os danos causados, Macron afirmou que o Governo francês ficará encarregue de limpar os terrenos contaminados, abrir os arquivos governamentais e criar um mediador permanente entre o Estado e a comunidade para os problemas relacionados e acelerar a reparação da população afectada. Mais: prometeu agilizar os processos de indemnização das pessoas afectadas pelas radiações.

Ainda antes da visita de Macron, o ministro da Saúde francês, Olivier Verán, já tinha afirmado no início deste mês, junto de representantes polinésios e do Governo francês, que a França iria financiar uma investigação sobre alguns tipos de cancro relacionados com a exposição à radioactividade. Segundo a AFP, as mulheres polinésias entre os 40 e 50 anos têm a taxa mais alta do mundo de cancro de tiróide.

Na visita do líder do Eliseu foi também reforçado o apoio de Paris à Polinésia Francesa, “onde tudo está a ser escrito hoje”. Em concreto, Macron comprometeu-se a “proteger” as comunidades piscatórias da região, as redes de comunicação e outras infra-estruturas. Prometeu, ainda, disponibilizar recursos financeiros para negócios, infra-estruturas de saúde e medidas para combater os efeitos das alterações climáticas, como a criação de abrigos contra ciclones.

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