Candidata apoiada por Trump perde eleição para o Congresso no Texas

O vencedor, Jake Ellzey, também do Partido Republicano, foi alvo de um ataque feroz da organização anti-impostos Club for Growth, que apoiou a campanha de reeleição de Donald Trump.

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Jake Ellzey (à esq.) teve o apoio de Rick Perry, antigo governador do Texas e secretário da Energia na Administração Trump DR

Uma candidata do Partido Republicano apoiada por Donald Trump foi derrotada numa eleição especial, no Texas, para um lugar que estava em aberto no Congresso dos EUA. A derrota de Susan Wright, líder nas sondagens durante a campanha e viúva do antigo ocupante do cargo, está a ser vista como sinal de uma possível perda de influência do ex-Presidente norte-americano junto do seu eleitorado.

Em causa estava a representação do 6.º distrito eleitoral do Texas no Congresso dos EUA, um lugar deixado vago após a morte do republicano Ron Wright. Eleito em Novembro de 2018, Wright foi diagnosticado com cancro do pulmão em Junho de 2019 e morreu de covid-19 em Fevereiro.

Numa primeira eleição, no início de Maio, aberta a candidatos de todos os partidos e a independentes, ninguém alcançou mais de 50% e foi preciso realizar uma segunda volta com os dois mais votados — Susan Wright, de 58 anos, viúva de Ron Wright e a preferida de Donald Trump; e Jake Ellzey, de 51 anos, um antigo piloto da Marinha dos EUA que teve o apoio de Rick Perry, ex-governador do Texas e ex-secretário da Energia na Administração Trump.

Na madrugada desta quarta-feira, pouco depois do anúncio dos resultados da segunda volta, Wright telefonou a Ellzey e felicitou-o pela vitória, referindo-se a ele como “congressista eleito”.

Para trás ficou uma campanha eleitoral disputada por dois candidatos que pouco se distinguem em termos de propostas políticas, sendo ambos defensores de restrições ao aborto e de um reforço da segurança na fronteira com o México, e opositores de restrições ao porte de armas.

O apoio de Trump a Wright, anunciado dias antes da eleição de Maio, fez com que os holofotes da política se virassem para o 6.º distrito do Texas, em busca de indicações no terreno sobre a saúde da relação do ex-Presidente dos EUA com o eleitorado que lhe deu a vitória nas presidenciais de 2016.

Ainda que não seja possível tirar conclusões a nível nacional a partir de uma eleição num estado, o Partido Democrata está atento a qualquer indicação de que não basta o apoio de Trump para que um candidato republicano vença uma eleição, quando falta pouco mais de um ano para a campanha das eleições intercalares de Novembro de 2022.

Num estado que atravessa profundas mudanças demográficas, mas ainda dominado pelos republicanos, a mais forte candidata do Partido Democrata na eleição de Maio, Jana Sanchez, ficou a apenas 347 votos de passar à segunda volta.

Ausente da campanha

“Trump não pode limitar-se a apontar para um candidato e dizer que o apoia”, disse Cal Jillson, professor de Ciência Política na Universidade Metodista de Dallas, no Texas, ouvido pelo jornal Washington Post. “Ele tem de ajudar a angariar fundos e a fazer passar a mensagem. Tem de aparecer na campanha, e ele não fez isso nesta corrida.”

Durante a campanha eleitoral, Jake Ellzey conseguiu angariar 1,7 milhões de dólares (1,4 milhões de euros), mais do dobro dos 740 mil dólares (620 mil euros) angariados por Susan Wright, que se manteve distante do eleitorado nas últimas semanas e recusou-se a debater com o seu adversário.

Ouvido pelo New York Times, o consultor político Matt Mackowiak, do Potomac Strategy Group, disse que a lição da vitória de Jake Ellzey no Texas é que “as campanhas fazem a diferença”, e não basta declarar o apoio a um candidato à distância — mesmo que esse apoio seja declarado por um ex-Presidente que é ainda adorado e respeitado pela esmagadora maioria do eleitorado republicano.

Para além de lutar contra o apoio de Trump a Susan Wright, o candidato que acabou por vencer a eleição teve também de enfrentar um ataque incessante da organização conservadora Club for Growth, que gastou 1,2 milhões de dólares (um milhão de euros) numa campanha de anúncios contra ele.

Fundado por multimilionários para pressionar os políticos a cortar impostos e prestações sociais, o Club for Growth começou por se opor a Donald Trump, em 2016, e acabou por dar o seu apoio ao ex-Presidente dos EUA a partir de 2018.

Nos anos seguintes, a organização investiu 20 milhões de dólares (17 milhões de euros) nas campanhas de 42 republicanos que, a 6 de Janeiro, votaram contra a certificação da vitória de Joe Biden na eleição presidencial — no dia em que uma multidão de apoiantes de Trump invadiu o edifício do Capitólio.

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