Grupo alemão ajudou a organizar protestos contra o confinamento na Austrália

Polícia de Sydney diz que não esperava tanta violência nas manifestações do fim-de-semana. O grupo Worldwide Demonstration tem como base teorias conspirativas com laivos de extrema-direita.

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A polícia deteve mais de 60 pessoas nos protestos em Sydney Reuters
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Manifestantes atiram garrafas de água e vasos com plantas contra a polícia Reuters
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Polícia atingido com tinta nas manifestações contra as restrições por causa da covid-19 em Sydney Reuters

Uma série de protestos contra as medidas de confinamento por causa da covid-19 na Austrália tiveram ajuda de um grupo alemão, que coordenou uma série de acções depois amplificadas por actores locais anti-vacinas e anti-restrições, diz o jornal britânico The Guardian.

A polícia deteve mais de 60 pessoas nos protestos do sábado passado em Sydney e multou 107 pessoas nos protestos de cerca de três mil pessoas. A polícia disse ter sido surpreendida “pelo nível de violência que as pessoas estavam preparadas para usar”, segundo o diário britânico.

O grupo conspiracionista Worldwide Demonstration, que esteve por trás da organização dos protestos, é descrito pelo jornal como “uma rede de grupos que têm em comum teorias da conspiração, incluindo alguns com ligações à extrema-direita”.

Na Alemanha, desde cedo que as autoridades alertavam para a infiltração de neonazis em manifestações negacionistas, anti-vacinas e anti-medidas para o controlo da covid-19. Um dos cientistas mais ouvidos sobre o coronavírus, Christian Drosten, foi alvo de ameaças continuadas.

Uma investigação da Logically, empresa de verificação de factos com sede no Reino Unido, revelou que o grupo esteve ligado a uma onda de 129 protestos simultâneos no dia 20 de Março, e tinha ainda planeado uma nova onda para o dia 15 de Maio.

O grupo tem 45 mil seguidores no Facebook e 70 mil no Telegram nas suas contas gerais, onde diz ser gerido a partir de Kassel, na Alemanha. Tem cartazes de manifestações de França às Filipinas, do Canadá ao Japão, passando também por Portugal.

Além de teorias da conspiração anti-vacinas e sobre a covid-19 em geral, no grupo há ainda conteúdo ligado à teoria de conspiração norte-americana QAnon (segundo a qual o país – ou o mundo – é liderado por uma rede de pedófilos) e islamofobia.

Por trás deste grupo está, segundo a informação nas redes sociais, o grupo Freie Bürger Kassel, ou Cidadãos Livres de Kassel. Segundo ainda a investigação da Logically, no entanto, aqui os comentários anti-semitas parecem ser contrariados e parece haver a ideia de que é preciso salvar os judeus do que dizem ser a ameaça de “imigração em massa e islamização” da Alemanha – um tema comum à extrema-direita alemã.

Se a infiltração da extrema-direita em manifestações em muitos locais é uma realidade, os protestos têm uma participação muito mais diversificada, tanto na Alemanha como na Austrália.

Josh Roose, investigador especializado em extremismo na Universidade de Deakin (no estado australiano de Victoria), notou que embora houvesse elementos de retórica de extrema-direita entre os manifestantes, estas não foram manifestações lideradas pela extrema-direita por si só. Em declarações ao Guardian, sublinhou o que os manifestantes têm em comum: o nível de marginalização e desconfiança nas autoridades.

“O que distingue imediatamente estes grupos de protesto é que são multiculturais, e não só homens zangados num comício patriota”, explicou Roose. “Também há questões de culturas e de comunidades que têm muitas vezes uma profunda desconfiança em relação ao governo, e muitas vezes com boas razões para isso.”

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