Ex-primeiro-ministro tunisino promete facilitar transferência de poder

Hichem Mechichi disse que tomou “decisões impopulares” e difíceis devido à “crise económica” que herdou e declarou que não vai assumir cargos de Estado para não contribuir para o agravamento da situação no país.

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O primeiro-ministro tunisino, Hichem Mechichi, foi destituído no domingo pelo Presidente, Kais Saied ZOUBEIR SOUISSI/Reuters

Um dia depois de ser sido demitido pelo Presidente, Kais Saied, o agora ex-primeiro-ministro tunisino, Hichem Mechichi, afirmou que vai estar “do lado do povo tunisino” e facilitará a transferência de poder para a pessoa que for designada para o substituir “para preservar a segurança de todos os tunisinos”.

“Entregarei a responsabilidade a quem o Presidente eleger para liderar o Governo no âmbito das deliberações que o nosso país tem seguido desde a revolução”, disse Mechichi num comunicado na noite de segunda-feira, em que desejou “todo o sucesso” aos futuros responsáveis pelo executivo.

“Tive a honra de servir a Tunísia em muitos cargos, e sempre fui fiel ao pacto que fiz, fosse qual fosse o meu cargo. Assumi a responsabilidade de dirigir o Governo há um ano, num dos momentos mais difíceis da história da Tunísia”, continuou.

O antigo primeiro-ministro reconheceu ter tomado “decisões impopulares aos olhos de alguns”, mas enfatizou que “a asfixiante crise económica” que herdou “do fracasso das sucessivas elites políticas dos últimos anos”, somando-se a crise do coronavírus, obrigou-o a tomar um conjunto de medidas “difíceis”, mas “necessárias”, tendo em conta “as limitadas capacidades do Estado e a sua situação económica deteriorada”.

Mechichi sublinhou que “grandes das discrepâncias entre as exigências pedidas nas ruas e as prioridades dos partidos políticos” não foram resolvidas com as eleições presidenciais de 2019, tal como se pretendia. Essas diferenças “começaram a prejudicar as actividades parlamentares”, o que “impulsionou a formação de um Governo de competências independentes”.

“Para evitar que o país passe por uma maior turbulência num momento em que mais precisa de todas as forças unidas, para sair da tensa situação que vive a todos os níveis, não posso ser de nenhuma forma um elemento perturbador, ou parte de um problema que complica a situação”, assinalou.

Por isso, declarou que não vai assumir qualquer “cargo ou responsabilidade no Estado”, declarando que está do lado povo tunisino e dos “seus direitos”.

Mechichi saiu de cena quando, no domingo, o Presidente tunisino o demitiu e suspendeu as actividades parlamentares. Saied afirmou que a medida implica também a retirada da imunidade dos deputados e afirmou que assumiria a liderança do Ministério Público para poder prosseguir com os casos pendentes, sendo esta uma de várias decisões “para salvar a Tunísia, o Estado e o povo tunisino”.

A medida foi tomada depois de um dia de protestos nas principais cidades do país, contra a gestão da pandemia de covid-19, mas também contra a classe política, a corrupção e a crise económica.

A decisão foi classificada como “golpe de Estado” pelo principal partido da oposição, Ennahda. E desde as primeiras horas de segunda-feira, seguidores do Ennahda e do Presidente Saied envolveram-se em confrontos perto do Parlamento. 

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