Só 0,04% das vacinas provocaram reacções graves em Portugal

Relatório a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde indica que até 22 de Julho foram notificadas 11.314 reacções adversas - uma por cada mil vacinas administradas. Entre os casos graves, cerca de 90% são situações de incapacidade temporária.

Foto
Daniel Rocha

Mais de 11.300 suspeitas de reacções adversas às vacinas contra a covid-19 foram registadas em Portugal. Houve 68 casos de morte comunicados em idosos, mas não está demonstrada a relação causa-efeito, segundo o Infarmed.

De acordo com o último relatório a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, até ao dia 22 de Julho foram notificadas 11.314 reacções adversas (uma por cada mil vacinas administradas). A maior parte (6485) referentes à vacina da Pfizer/BioNtech (Comirnaty); seguem-se a da AstraZeneca (Vaxzevria), com 3480, a da Moderna (Spikevax), com 970, e a da Janssen, com 379 casos.

Os dados indicam que por cada mil doses administradas foram comunicadas uma reacção adversa no caso das vacinas da Pfizer (Comirnaty), Moderna e Jansen. No caso da caso da AstraZeneca (Vaxzevria) o valor é 1,7.

O Infarmed considera que, “face ao número total de vacinas administradas, as reacções adversas às vacinas contra a covid-19 são pouco frequentes (cerca de um caso em mil inoculações) e esta relação tem-se mantido estável”. Adverte que é preciso conhecer o resultado das análises qualitativas e quantitativas feitas às ocorrências registadas para que se possa estabelecer “a existência de uma relação causal definitiva entre uma suspeita de RAM [Reacção Adversa a Medicamento] e a administração de uma vacina contra a covid-19”. 

No total de 11.002.983 doses administradas em Portugal continental e nas Regiões Autónomas, o Infarmed registou 11.314 casos de reacções adversas, das quais 4015 graves (36%), entre elas 68 casos de morte entre pessoas com uma média de 78 anos de idade. “Os casos de morte ocorreram num grupo de indivíduos com uma mediana de idades de 78 anos e não pressupõem necessariamente a existência de uma relação causal entre cada óbito e a vacina administrada, decorrendo também dentro dos padrões normais de morbilidade e mortalidade da população portuguesa”, escreve.

O relatório acrescenta ainda que, entre os casos graves, “cerca de 90% dizem respeito a situações de incapacidade temporária (incluindo o absentismo laboral) e outras consideradas clinicamente significativas pelo notificador, quer seja profissional de saúde ou utente”. Foram confirmados dois casos de trombose e trombocitopenia e há outros cinco “prováveis” relacionados com a vacina da AstraZeneca. Foram identificados oito casos de mioardite/pericardite referentes à vacina da Pfizer/BioNtech. O Infarmed dá ainda conta da notificação de 11 casos de síndrome de Guillain-Barré (SGB), uma doença inflamatória do sistema nervoso periférico, potencialmente associados à vacina Vaxzevria (AstraZeneca) e dois casos potencialmente associados à vacina Janssen.

Aquela entidade tem recebido, de forma agregada ou individual, relatos de manifestações de ansiedade vacinal, “como síncope (por reacção vasovagal), lipotimia (pré-síncope), hiperventilação e hipersudorese”, e sublinha tratar-se de “reacções conhecidas e não graves que podem surgir como respostas de stress à vacinação (e não às vacinas)”. “Porque estas reacções têm sido publicamente mais associadas com a vacina da Janssen, é importante referir que, à data de elaboração do presente relatório, estavam registados 282 casos de suspeitas de síncope na base de dados europeu de reacções adversas (EudraVigilance), tendo sido administradas cerca de nove milhões de doses da vacina da Janssen no EEE [Espaço Económico Europeu], ou seja, um acontecimento raro ou subnotificado, em virtude de se reconhecer tratar-se de uma associação meramente colateral com a vacina”, sublinha.

Sobre os relatos de um suposto “efeito magnético” hipoteticamente associado à vacinação contra a covid-19 que têm sido recebidos pelas diversas agências regulamentares, o Infarmed sublinha que “não têm qualquer fundamentação científica”.

A maioria das reacções notificadas ao Infarmed foi registada em mulheres (7800).“Pensa-se que isto possa dever-se a uma maior atenção das mulheres a tudo o que diz respeito à sua saúde, bem como ao seu maior interesse por temáticas da área da saúde”, refere a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde. Por faixas etárias, destaca-se a dos 30-49 anos.

As dez reacções mais notificadas referem-se a casos de mialgia/dor muscular (3044), cefaleia/dor de cabeça (2927), pirexia/febre (2830), dor no local de injecção (2567), fadiga (1288), calafrios (1232), náusea (1148), artralgia/dor articular (913), dor generalizada (711) e alterações/aumento dos gânglios (642). Foram ainda registados casos de tontura (638), mal-estar geral (620), astenia/fraqueza (546), vómitos (538) e dor nas extremidades corporais (534).

No relatório, o Infarmed lembra que a maioria das reacções adversas a medicamento mais notificadas se enquadra “no perfil reactogénico comum de qualquer vacina (...), tendo sido detectadas ainda na fase de ensaios clínicos e descritas na informação destas vacinas”, e que grande parte destas reacções se resolve “em poucas horas ou dias, sem necessidade de intervenção médica, e sem sequelas”. “Apenas as situações não resolvidas ou agravadas após esse período ou de natureza clínica mais grave poderão requer atenção médica”, acrescenta.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários