Sem alternativa, fecho de refinaria pode cortar 1600 empregos em Matosinhos

Estudo socioeconómico encomendado pela Câmara Municipal de Matosinhos à Universidade do Porto aponta para perdas de rendimento na região.

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Nelson Garrido

O encerramento da refinaria de Matosinhos, em Abril, representa perdas de 5% do PIB em Matosinhos e de 1% na Área Metropolitana do Porto, segundo um estudo socioeconómico a que a Lusa teve acesso.

O estudo, encomendado pela Câmara Municipal de Matosinhos à Universidade do Porto para avaliar os impactos socioeconómicos do fecho do complexo petroquímico no concelho, traça um “cenário particularmente grave” para a região Norte e para o país, caso não seja dado qualquer destino àquela instalação industrial.

“No cenário de não existirem alternativas para o complexo de refinação da Petrogal estima-se a perda de 1600 postos de trabalho em Matosinhos e de 5000 na Área Metropolitana do Porto [AMP]”, refere.

Já em termos de Produto Interno Bruto (PIB) as perdas previstas são de 5% em Matosinhos e de 1% na Área Metropolitana do Porto (AMP).

Perante estes resultados, o estudo sugere a criação de um Centro Tecnológico da Energia e do Mar, solução defendida pela presidente da Câmara, a socialista Luísa Salgueiro.

Este centro deverá ser constituído por um laboratório para a energia e para o mar, uma incubadora de empresas, hospedaria de laboratórios industriais e um parque de pilotos industriais, adianta o estudo.

Além disso, prevêem-se ainda áreas para serviços auxiliares como cantinas, residências temporárias e áreas de lazer, estando ainda contemplada uma área de crescimento do complexo.

“Esta solução criará mais emprego, mais sustentabilidade e mais valor acrescentado do que a refinaria agora encerrada, permitindo a criação de um ecossistema de inovação e desenvolvimento, liderado por instituições âncora como universidades e grandes empresas”, refere o estudo.

O objectivo é, acrescenta, que este centro seja “um viveiro para novos recursos e novas ideias em áreas como a mobilidade inteligente ou a valorização energética de resíduos”.

Luísa Salgueiro ressalvou que a “localização da actual refinaria é um activo estruturante para a região e para o país, dado estar no coração da AMP e ter acessibilidades únicas com a proximidade do aeroporto e do porto de mar, sendo ainda servida por comboio e vias rápidas de acesso directo a Espanha.

Perante estas características, a autarca considerou ser o momento de “transformar este encerramento numa oportunidade”, aproveitando fontes de financiamento “inéditas” em Portugal, referindo-se ao Portugal 2030.

A presidente da autarquia entendeu que o Portugal 2030 tem de “virar as agulhas” para Matosinhos e para a região, não podendo os responsáveis regionais e o Governo ficar de “braços cruzados”.

A constituição de um Centro Tecnológico da Energia e do Mar é a “melhor solução”, sendo o recurso aos fundos comunitários “fundamental” para o mesmo ser uma realidade, sublinha.

Luísa Salgueiro reforça que o foco está na criação de emprego e defesa do ambiente e da saúde pública. “É para isso que estamos a trabalhar. Ainda não é conhecida nenhuma estratégia, plano ou projecto da Galp para aquele território, mas sabemos que este é o tempo da decisão e de assumir responsabilidades e, por isso, a nossa expectativa é que a empresa esteja alinhada com a nossa visão para o futuro”, conclui.

A Galp desligou a última unidade de produção da refinaria de Matosinhos em 30 de Abril, na sequência da decisão de concentrar as operações em Sines.

A petrolífera justificou a “decisão complexa” de encerramento da refinaria de Matosinhos com base numa avaliação do contexto europeu e mundial da refinação, bem como nos desafios de sustentabilidade, a que se juntaram as características das instalações.

Após ter decidido o encerramento da refinaria, a Galp encetou conversas individuais com os 401 trabalhadores em causa, chegando a acordo com mais de 40%. Mais 30% do total dos trabalhadores da refinaria de Matosinhos irão manter-se, pelo menos, até Janeiro de 2024, no âmbito das operações de desmantelamento e descontinuação.

O Estado é um dos accionistas da Galp, com uma participação de 7%, através da Parpública.

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