A hilariante e bizarra ansiedade social de Tim Robinson

I Think You Should Leave with Tim Robinson, série de sketches da Netflix, chegou à segunda temporada no início de Julho. O desconforto continua.

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Num sketch, Tim Robinson faz de um actor de um programa de apanhados que, depois de pôr maquilhagem e próteses para uma partida num centro comercial, desiste do seu objectivo DR

As personagens que Tim Robinson faz não sabem, regra geral, quando parar. Já deviam ter saído de cena há muito e continuam a enterrar-se. Em situações como festas, reuniões de empresas, cafés, entre outros contextos sociais, mentem para tentarem manter um certo estatuto, apesar de toda a gente, menos elas, ter noção do que está a acontecer. Não são pessoas felizes e mantêm-se agarradas a algo que pura e simplesmente não funciona. Sejam camisas ou chapéus foleiros ou palavrões, as criações a que Robinson dá vida não sabem só estar. É esse o caso em I Think You Should Leave with Tim Robinson, a desconfortável série de sketches da Netflix que é um tratado de ansiedade social co-criado por Robinson e Zach Kanin, que chegou à segunda temporada no início do mês.

São seis curtos episódios, à volta de 15 de minutos cada. Tal como a primeira temporada, datada de 2019, já há uma mão-cheia de clássicos modernos que começaram a ser eternizados em memes da internet. Nem todos são bem como os típicos sketches de Robinson. Num dos mais memoráveis, este faz de um actor de um programa de apanhados que põe próteses e maquilhagem para parecer outra pessoa e ir chatear clientes de um centro comercial. Primeiro está entusiasmado, mas chega ao sítio onde se desenrolarão as partidas e não consegue respirar, tem demasiado calor, e vai-se abaixo. Decide que nada do que ele iria fazer tem piada, nada vale a pena e já nem sequer quer continuar vivo, e fica zangado, a gritar com o realizador estacionado numa carrinha fora do centro comercial. É triste e patético e hilariante.

Noutro, que não é focado no protagonista, o Pai Natal tem um filme de acção manhosa, como os que Bruce Willis tem feito nos últimos tempos, e fica chateado quando, a promovê-lo, lhe fazem perguntas sobre a sua carreira como Pai Natal. Também sem Tim Robinson, um dos sketches mais densos envolve Paul Walter Hauser, o Richard Jewell do filme de Clint Eastwood. Vemo-lo com os amigos a, por pressão social, fazer uma piada negativa sobre a mulher. Depois vemo-lo a arrepender-se enquanto se lembra da forma como esta o apoiou na sua vontade de ser actor e o confortou quando um colega que estava no mesmo espectáculo de teatro que ele lhe roubava todas as deixas. É brilhante.

Os convidados incluem também gente como Bob Odenkirk, de Better Call Saul, que, depois de ter feito o seminal Mr. Show with Bob and David, se tornou uma espécie de anjo da guarda da comédia de sketches, seja como mentor ou actor em programas como Tim & Eric's Awesome Show, Great Job! – cujo Tim Heidecker também aparece aqui –, ou Birthday Boys. Odenkirk surge num sketch em que Tim é um pai que está num restaurante com a filha e não a quer deixar ir a uma gelataria. Odenkirk é um homem numa mesa ao lado, que, para o ajudar, entra numa mentira que se vai tornando cada vez mais elaborada e dramática. Há também algumas das pessoas com mais piada da comédia actual, de Patti Harrison, sempre hilariante e sempre bizarra, com algumas das tiradas mais inesperadas e estranhas, a Sam Richardson, que fazia parelha com Robinson em Detroiters, uma óptima série cómica, passando por Conner O'Malley. 

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