Bernardo Moreira celebra Carlos Paredes em sexteto. E Mudar de Vida é a estreia

O álbum chama-se Entre Paredes e vai ser lançado esta sexta-feira nas plataformas digitais, nas lojas (em CD) e também ao vivo, num concerto marcado para o Espaço Espelho D’Água, em Belém (Lisboa), às 19h, entretanto já esgotado. Gravado no Convento São Francisco, em Coimbra, em 2020, é a segunda incursão do contrabaixista e compositor Bernardo Moreira no universo de Carlos Paredes. A primeira foi o disco Ao Paredes Confesso (Universal, 2002) e incluía, a par de três temas do próprio Bernardo, quatro de Carlos Paredes: Dança dos montanheses, Verdes anos, Sede e morte e Variações sobre uma dança popular. Esta, passadas quase duas décadas, regressa a Verdes anos (com uma versão bem diferente), juntando-lhes outros cinco temas do mestre: António Marinheiro, Canto de amor, Serenata do Tejo, Canto do amanhecer e Mudar de vida, que agora se estreia num videoclipe que mostra os músicos em preparativos, ensaios e gravação.

“Muitas vezes os discos ficam muito perfeitinhos”, diz Bernardo ao PÚBLICO, “mas, sem se dar por isso, retirou-se-lhes o sopro. Aqui, a última coisa que eu queria, até por respeito ao Paredes, que gravava seguido, era não ceder a essa tentação. Aqui tinha de estar a alma do Mondego, da Sé, o momento. E não se pode estragar o momento.” Com Bernardo Moreira (contrabaixo), compõem o sexteto João Moreira (trompete), Tomás Marques (sax alto e soprano), Ricardo J. Dias (piano), Mário Delgado (guitarra) e Joel Silva (bateria). Que, a partir dos temas de Carlos Paredes, desenvolvem as melodias, mas também improvisam, como diz Bernardo: “Alguns [temas] têm as melodias quase completas, outros têm só partes da melodia e o resto é desenvolvido à volta. Houve um trabalho de composição entre mim e ele. E achei que também devia dar algum espaço à improvisação, porque os músicos também deviam ter o seu momento, todos eles, para que cada um (tendo aqui, no máximo, dois solos) pudesse trazer a sua parte.”

A edição e o primeiro concerto de apresentação de Entre Paredes ocorrem num dia de particular significado, 23 de Julho, porque foi nesse dia que Carlos Paredes nos deixou (em 2004) e foi também nesse dia que nasceu Bernardo Moreira (em 1965). O disco Entre Paredes tem apoio da Sociedade Portuguesa de Autores, Câmara Municipal de Coimbra e Antena 2; e o concerto de apresentação tem apoio do Garantir Cultura. Enquanto o disco de 2002 era sobretudo “um disco de jazz feito por músicos de jazz”, como diz Bernardo numa entrevista ao Ípsilon que será publicada também no dia 23, neste novo disco o processo foi ao contrário: “Pensei que desta vez fazia sentido juntar uma série de músicos com experiências também na área da música popular portuguesa e irmos nós ao encontro do Carlos Paredes, respeitando muito mais a respiração de toda aquela música sem a forçar a vir para o jazz. Aqui, fomos nós a ir ter com ele.”