Poderemos chegar aos quatro dias de trabalho?

Teremos condições para reduzir a semana de trabalho com os níveis da fraca produtividade que o país atravessa?

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Adriano Miranda

Tem surgido a debate a redução do período de trabalho. Na Islândia, que testou o modelo de 32 horas semanais, o sucesso foi enorme. Em Espanha, na Nova Zelândia e no Japão, a alteração das horas semanais de trabalho ganha cada vez mais força nos respectivos governos, bem como nas empresas.

A ideia remota ao século XVIII e, mais tarde, Karl Marx e mesmo Keynes defendiam a tese da redução do horário de trabalho que, no entanto, foi ganhando força no século XIX, tendo como protagonista Henry Ford, apologista do descanso como motor de uma maior motivação e, como consequência, um aumento da produtividade.

A tendência da redução do horário laboral que visa conseguir uma maior flexibilidade entre a vida pessoal e profissional poderá, na realidade, ser mais vantajoso para todos, embora muitos defendam que a fraca taxa de produtividade que o nosso país atravessa poderia pôr em causa os já de si fracos valores de crescimento, seriamente prejudicado pela crise pandémica, sendo que o debate da redução do período laboral fica, de alguma forma, dificultado.

Apesar de as estatísticas mostrarem uma realidade produtiva portuguesa abaixo da média europeia, algumas teses defendem que ter mais tempo para o lazer alavancará o consumo, podendo com isto, de alguma forma, fazer crescer a economia bem como criar nos trabalhadores outro ânimo para o trabalho. Mas se Portugal é o sexto país da União Europeia (UE) com menor produtividade, a discussão estará no tempo certo? Teremos condições para reduzir a semana de trabalho com os níveis da fraca produtividade que o país atravessa?

É importante percebermos que temos de criar condições económicas no país para que este possa crescer e dar oportunidades aos mais jovens, com a fixação e o surgimento de empresas.

A redução da carga de trabalho e a ideia de uma semana de quatro dias seriam devastadores para o nosso tecido empresarial composto, na sua grande maioria, por pequenas e médias empresas que necessitariam de mais mão-de-obra. Por este facto, os custos do trabalho aumentariam em grande escala, conduzindo isto à inviabilização de muitas empresas. A mudança que agora está em debate, para além de brusca, surge num tempo que não é compatível com a nossa economia real, mas podemos e devemos começar a debater a questão e encarar com normalidade um novo paradigma que aí vem no mundo laboral.

Mais cedo ou mais tarde conseguiremos lá chegar, mas agora é prematuro a implementação do “sonho “ de uma semana de trabalho reduzida.

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