As alterações climáticas entram na campanha eleitoral alemã

A tragédia pode dar empurrão aos Verdes, numa altura em que o candidato da CDU, Armin Laschet, é acusado de falta de empatia com as vítimas depois de uma gaffe em frente às câmaras de televisão.

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A gaffe de Armin Laschet durante a visita à devastada cidade de Erftstadt Reuters

A ministra alemã do Ambiente, Svenja Schulze, disse-o logo na quinta-feira, quando ficou visível a devastação e o número de vítimas causado pela força das chuvas. “As alterações climáticas chegaram à Alemanha.” Por entre acusações de falta de avisos e de evacuações tardias, a crise climática entrou na discussão política em ano de eleições legislativas, marcadas para 26 de Setembro.

E, para já, a tragédia parece ter colocado em desvantagem a CDU de Angela Merkel e do seu sucessor e candidato a chanceler, Armin Laschet. Para começar, com a aparente falta de empatia de Laschet, que foi obrigado a pedir desculpa depois de ter sido apanhado pelas câmaras a rir-se durante uma visita à cidade de Erftstadt, uma das mais atingidas pelo mau tempo e onde terão morrido mais de meia centena de pessoas, ao mesmo tempo que o Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, se dirigia solenemente à população.

Na visita que fez este domingo à vila de Schuld, Merkel ainda disse “temos de nos apressar, temos de ser mais rápidos na luta contra as alterações climáticas”, mas a tragédia que caiu sobre a Alemanha pode deixar a CDU em maus lençóis. E, dos três candidatos à sucessão de Angela Merkel como chanceler - Laschet, Olaf Scholz (SPD) e Annalena Baerbock (Verdes) - a balança pode começar a cair para a última quando faltam pouco mais de dois meses para os alemães irem às urnas.

Os três candidatos apressaram-se a largar tudo para visitarem as zonas mais devastadas. E, no passado, a maneira como os políticos lidaram com a tragédia foi decisiva nas campanhas eleitorais. Em Agosto de 2002, o então chanceler Gerhard Schröder, do SPD, entrou imediatamente em cena quando o rio Elba galgou as margens e obrigou à retirada de mais de 30 mil pessoas, enquanto o seu rival conservador, Edmund Stoiber, optou por não interromper as férias.

Antes da gaffe em Erftstadt, Laschet já mostrara aos alemães que, se calhar, não será o líder certo para enfrentar a emergência climática. Numa entrevista ao canal de televisão WRD na quinta-feira, o candidato a chanceler pela CDU irritou-se quando o jornalista lhe perguntou se as cheias seriam um catalisador para redobrar os esforços políticos no que às alterações climáticas diz respeito.

“Sou um líder político, não um activista. Só porque tivemos um dia como este não quer dizer que tenhamos de mudar a nossa política”, respondeu Laschet.

A hesitação de Laschet irá beneficiar certamente a candidata dos Verdes. Depois de, em Maio, uma sondagem ter colocado Annalena Baerbock à frente da corrida eleitoral, com uma vantagem de três pontos sobre o candidato da CDU, os Verdes perderam terreno para os conservadores em Junho, quando uma sondagem do instituto Insa para o jornal Bild am Sonntag deu ao centro-direita 28% das intenções de voto, mais nove pontos do que os Verdes.

Agora, com o tema das alterações climáticas a entrar definitivamente na campanha eleitoral, Baerbock pode ter o empurrão de que necessita para poder aspirar à sucessão de Angela Merkel como chanceler, principalmente tendo em conta a proposta dos Verdes para cortar as emissões de gases com efeito de estufa em 70% até 2030, um objectivo bem mais ambicioso do que o plano do actual Governo, que propõe uma redução de 55%.

 
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