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Espreitando Ai Weiwei – o que vemos?

Olhar o trabalho do mais famoso artista chinês da actualidade, na exposição Rapture, em Lisboa, é permitir que ele nos olhe também. O que resulta desse jogo?

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“A liberdade de expressão implica que o mundo não esteja definido. Só faz sentido quando se permite que as pessoas possam ver o mundo à sua maneira.” A frase, do artista chinês Ai Weiwei, está no livro Weiwei-ismos, editado a propósito da exposição Rapture, que pode ser vista na Cordoaria Nacional, em Lisboa, até 28 de Novembro.

Esta série de fotografias capta precisamente a relação que cada visitante estabelece com a obra daquele que é actualmente o mais famoso artista chinês e também um dos mais destacados dissidentes e críticos do regime de Pequim.

As obras vão desde a década de 80 do século XX, como as fotografias do período em que viveu em Nova Iorque e se deixou fascinar por figuras como Andy Warhol, até às mais recentes, feitas com materiais e técnicas portuguesas, em Portugal, onde comprou casa, em Montemor-o-Novo, e onde escolheu viver.

Olhamos Ai Weiwei e ele olha-nos – começando logo no cartaz de promoção da exposição, onde, com a ajuda das mãos, abre mais os olhos, fitando-nos directamente. Olhos nos olhos. Como se nos espreitasse.

Depois, já dentro da Cordoaria, oferece-se ao nosso olhar, por exemplo na estátua de si próprio, em cortiça portuguesa, com parte do cérebro desaparecido. Ou, expondo-se ainda mais, no conjunto de peças que remetem para os dias que passou na prisão – nós, visitantes, somos forçados a dobrar-nos, a subir um degrau, a alterar a posição para assumirmos o nosso voyeurismo, espreitando, como num peephole, para as cenas do quotidiano de um homem preso.

Todo o trabalho de Ai Weiwei é político. Quando insufla os imigrantes tornando-os figuras gigantes, negras, num barco, negro, obriga-nos a vê-los. Não há como desviar o olhar. Quando multiplica as bicicletas Forever na peça que se encontra no exterior, à entrada da Cordoaria, lança-nos para o outro lado, como se estivéssemos numa nave no espaço, a viajar à velocidade da luz, por entre as galáxias. Depois, lá dentro, desmultiplica-se em materiais: pedra, azulejo, cortiça, bambu, vídeos, muitos vídeos, onde ele próprio se desmultiplica em muitos Ai Weiwei.

“Quero que as pessoas vejam o seu próprio poder”, diz no livro. Mas deixa um aviso: “As minhas mensagens são temporárias e não devem ser a nossa condição permanente. E, tal como o vento, hão-de passar. Outro vento há-de vir.”

Voltamos ao princípio: “A liberdade de expressão implica que o mundo não esteja definido.” Cada um o vê à sua maneira. O fotojornalista Paulo Pimenta capta aqui alguns desses olhares. Cada um deles único.