EUA registam aumento significativo de extremistas com historial militar

Desde 2016 que aumentou o número de extremistas identificados como tendo passado militar. A invasão ao Capitólio marcou o auge de uma tendência que cresceu durante os anos da Administração Trump.

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Segundo o relatório, 40% das pessoas identificadas pela invasão ao Capitólio tinham manifestado a sua adesão a um movimento extremista organizado MIKE THEILER/Reuters

Mais de 80 pessoas identificadas nos EUA como extremistas desde o início do ano tinham historial militar, três vezes mais do que o total registado ao longo do ano passado, avançou um estudo publicado esta semana pelo Consórcio Nacional para o Estudos do Terrorismo e Reposta ao Terrorismo (START, na sigla inglesa).

O estudo aponta que, desde 1990 até os primeiros cinco meses de 2021, pelo menos 354 indivíduos com passado militar cometeram actos criminais “por motivações políticas, económicas, sociais e religiosas”. Entre eles estão incluídos 82 dos aproximadamente 560 dos acusados pela invasão do Capitólio a 6 de Janeiro deste ano.

Ainda que a invasão do Capitólio seja a principal responsável pela grande disparidade dos números, os dados do relatório revelam um aumento significativo de casos desde a última metade da década passada. Entre 1990 e 2015, o número médio de “radicalizados” (um termo que engloba detidos, acusados e condenados) com antecedentes no Exército apenas chegava aos dez indivíduos. De 2016 a 2020, este valor médio aproximou-se dos 20, até culminar na explosão de casos deste ano.

O crescimento deve-se em grande medida ao aumento da tensão social registada nos EUA durante o mandato do ex-Presidente Donald Trump, como a manifestação Unite the Right em 2017 em Charlottesville, na Virgínia, os protestos pela justiça racial, as eleições presidenciais de Novembro do ano passado e, já em 2021, pela invasão do Capitólio.

Neste sentido, o relatório estima que apenas 40% dos acusados pela invasão tinham manifestado a sua adesão a um movimento extremista organizado. Cerca de 60%, ainda que tenham participado num delito de violência ideológica, agiram por conta própria.

Por outro lado, é destacado que mais de 60% do total de identificados durante os últimos 30 anos foram acusados de tomar parte de uma conspiração para cometer actos violentos, bem à frente do segundo grupo, identificado pela posse de armas (cerca de 7,9%). Contudo, apenas uma minoria (40%) do total de identificados com passado militar conseguiu cometer os crimes.

Grupos extremistas

Cerca de 86% de condenados – excluindo os assaltantes do Capitólio, ainda apenas acusados –, com historial militar identificados no estudo aderiram a milícias antigovernamentais (52%) e grupos supremacistas brancos (34%), que se tornaram ainda mais o centro das atenções das forças de segurança norte-americanas.

São identificadas mais de duas dezenas de milícias (como Cidadãos Soberanos ou os Oath Keepers) e 25 grupos racistas como o Ku Klux Klan, os Proud Boys ou o Movimento Nacional. Ainda que muitos dos membros se tenham limitado a expressar a sua afinidade a estes grupos, uma maioria de 63% foi identificada como membro de pleno direito destas organizações, de acordo com os dados retirados a partir do projecto que identifica perfis de radicalização individual nos EUA (PRIUS).

Uma percentagem inferior, de 12%, diz respeito aos acusados que juraram lealdade a movimentos jihadistas, entre eles 19 indivíduos que foram inspirados pelo Estado Islâmico e outros 14% pela Al-Qaeda e respectivas filiais. Uns 5% declararam-se partidários des movimentos antiaborto, aproximadamente os mesmos que simpatizavam com organizações baseadas em fenómenos de conspiração como o QAnon.

Já os indivíduos com passado militar associados a movimentos anarquistas ou anticapitalistas não chegam a 2%, refere o relatório, e apenas 1,4% aderiram a movimentos nacionalistas ou separatistas de raça negra.

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