Isto não é o triunfo de um encenador português em Avignon

Onze noites depois, O Cerejal com que Tiago Rodrigues flechou o coração do festival que em breve irá dirigir despede-se do palco onde se estreou rumo a uma longa digressão internacional com escala em Lisboa, perto das Portas de Santo Antão, onde tudo começou. Crónica de uma apoteose anunciada – com chuva e pedras pelo caminho.

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Christophe Raynaud de Lage

Já muito tuberculoso, Tchékhov escreveu O Cerejal na sua villa de Ialta e ficou a assistir de longe às pequenas-grandes violências a que, no Teatro de Arte de Moscovo, Stanislavski ia submetendo a sua “comédia, que chega a parecer em momentos uma farsa”. No papel de Liubov, a protagonista, uma proprietária afundada em dívidas, negação e luto, a própria mulher do dramaturgo, Olga Knipper, “derrama torrentes de lágrimas enquanto o marido morre na Crimeia” – a peça estreia-se em Janeiro, ele morrerá em Julho –, “o que é talvez a pior forma de trair Tchékhov, que queria que O Cerejal fosse representado como uma peça alegre, ligeira”, escreverá Roger Grenier quase um século depois, em Olhai a Neve a Cair – Impressões de Tchékhov (Teatro Nacional S. João/Húmus, 2020).

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