Quase 70% da população proibida de circular na rua a partir das 23h

Número de concelhos em que se aplica o recolher obrigatório aumentou para 90. Na semana passada eram 60 os municípios com risco elevado ou muito elevado. Há ainda 30 concelhos em alerta.

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A ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Quase 70% da população de Portugal continental, o que corresponde a aproximadamente 6,6 milhões de portugueses, passa a estar proibida de circular na rua entre as 23h e as 5h, depois de o número de concelhos em que se aplica o recolher obrigatório ter aumentado para 90, segundo anunciou a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, esta quinta-feira, após reunião do Conselho de Ministros.

São agora 47 os concelhos em risco muito elevado (o que corresponde a cerca de 46% da população) e 43 com risco elevado de transmissão da covid-19 (abrangendo 22%) se considerarmos apenas a população residente em território continental (9.802.128), de acordo com a estimativa da população residente em Portugal para o ano de 2020 do Instituto Nacional de Estatística.

Nestes municípios, além do recolher obrigatório a partir das 23h, aplica-se a exigência de certificado de vacinação ou teste negativo para aceder ao interior dos restaurantes. Na semana passada eram 60.

Todos os concelhos da Área Metropolitana de Lisboa (AML) estão sob risco muito elevado de covid-19 devido à incidência.

A ministra revelou esta quinta-feira, após a reunião do Conselho de Ministros, que a incidência a 14 dias por cem mil habitantes é de 346,5 em Portugal continental e o índice de transmissibilidade — R(t) — está agora em 1,15.

“Quando olhamos para a situação do nosso país na matriz de risco, vemos que a situação continua a degradar-se. Temos hoje no continente uma incidência [de novos casos de infecção] de 346,5 por 100 mil habitantes e um ritmo de transmissão ou R(t) [do vírus] de 1,15”, adiantou ainda. 

No entanto, “o valor do ritmo de transmissão — R(t) — é inferior” face à semana passada, o que indica uma desaceleração do crescimento da pandemia. “Na semana passada tínhamos crescido mais de 50% face à semana anterior e esta semana crescemos 28% face à semana passada”, detalhou Mariana Vieira da Silva. Mas disse que enquanto o R(t) foi “maior do que um vamos sempre aumentar o número de casos” e que ainda não há previsão de quando poderá ser alcançado o pico de contágios.

Autotestes à venda nos supermercados

Para incentivar a testagem, o Governo aprovou esta quinta-feira um decreto que autoriza a venda de autotestes à covid-19 nos supermercados.

Questionada sobre um eventual levantamento das restrições nos bares e discotecas, Mariana Vieira da Silva salientou que “não estamos ainda num momento em que [isso] seja possível”. A hipótese foi admitida, até como “incentivo" à vacinação dos jovens, pelo secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença, esta quinta-feira. 

Na conferência de imprensa, a ministra adiantou que há um conjunto de medidas que vão ser decididas depois da reunião do Infarmed, marcada para dia 27 de Julho, na qual o Governo ouve a comunidade científica para tomar decisões. Uma delas é a do regresso do público aos estádios de futebol. Mariana Vieira da Silva disse que a solução técnica está a ser trabalhada pelas autoridades de saúde, mas que só depois daquela reunião haverá condições para tomar uma decisão. 

Dessa reunião sairá, aliás, um “novo calendário” e um “conjunto de medidas para gerir a evolução da pandemia. A ministra defendeu a matriz de risco em vigor, mas disse que o Governo está sempre disponível para a melhorar. E deu o exemplo do caso de Odemira que neste momento está na lista de concelhos de baixo risco porque a matriz permitiu activar medidas imediatas para conter a situação epidemiológica no concelho. A matriz foi “muito útil entre Março e Junho na resolução de muitos problemas”.

A ministra da Presidência faz um balanço positivo do processo, elogiando o ritmo “muitíssimo elevado” de vacinação. “Mesmo nas idades mais jovens, já há muitas pessoas com a primeira vacina”, disse, sem avançar números. “Todos os esforços têm sido utilizados para uma utilização plena das vacinas”. Neste momento, há mais de 3.200.000 portugueses com a vacinação completa há mais de 15 dias. “Esse avanço da vacinação é um instrumento importantíssimo de redução da pandemia”, disse.

Quanto à resposta hospitalar, a governante adiantou que há 600 internados, 174 dos quais em cuidados intensivos e um crescimento de 19% de internados face à semana anterior, e de 18% face à semana anterior, no caso dos internados em cuidados intensivos. A ministra diz que a situação da resposta do SNS está “controlada” e não se antecipam dificuldades específicas.

Na conferência de imprensa, a ministra da Presidência salientou ainda que os internamentos e casos em cuidados intensivos estão a crescer, mas que “a situação está controlada do ponto de vista do Serviço Nacional de Saúde”.

No último mês, a pandemia de covid-19 em Portugal registou uma evolução significativa, com os casos e internamentos a subirem — durante este período, foram reportados mais de 58 mil novos casos (um aumento de 6,8% num mês). Em contrapartida, os óbitos estabilizaram, numa altura em que mais de 70% da população adulta está já vacinada com pelo menos uma dose.

Lisboa e Vale do Tejo foi a região que reportou mais casos no último mês (quase 32 mil), mas o Algarve registou o maior aumento percentual de infecções (24%). No mesmo período, o Norte — onde foi observado um aumento dos casos na ordem dos 4% — deixou também de ser a região do país com mais infectados acumulados desde o início da pandemia, um lugar ocupado agora por Lisboa e Vale do Tejo.

Entre 14 de Junho e 14 de Julho, houve um crescimento de 115% nos internamentos e de 122% nos cuidados intensivos. Porém, o limite traçado por vários especialistas de 245 camas ocupadas em cuidados intensivos em Portugal continental ainda não foi ultrapassado — na quarta-feira, havia 171 doentes com covid-19 em cuidados intensivos, o que corresponde a 69,7% do valor crítico definido.

Por outro lado, ao contrário do que aconteceu noutras vagas, a evolução destes números não se traduziu num aumento exponencial das mortes, com os óbitos por covid-19 a registarem apenas um ligeiro aumento de 0,8% no último mês.

A matriz de risco acompanhou esta evolução da pandemia, com Portugal a passar do quadrante laranja para o vermelho. Num mês, a incidência a 14 dias por cem mil habitantes aumentou de 83,4 para 346,5 em território continental e o índice de transmissibilidade — R(t) — passou de 1,10 para 1,15 no continente. Com Lusa

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