Governo propõe lei para actuar sobre margens de comercialização de combustíveis

O ministro do Ambiente revelou iniciativa legislativa no Parlamento para evitar “subidas duvidosas” do preço dos combustíveis.

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João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Acção Climática Nuno Ferreira Santos

O Governo vai propor já esta quarta-feira um decreto-lei que permite actuar sobre as margens de comercialização dos combustíveis, para evitar “subidas duvidosas” e para que a descida dos preços seja sentida pelos consumidores, anunciou o ministro do Ambiente.

“A área do Ambiente e da Acção Climática proporá, ainda hoje, um decreto-lei que permite ao Governo actuar sobre as margens de comercialização dos combustíveis, de forma a que o mercado de combustíveis reflicta os seus verdadeiros custos”, anunciou o ministro do Ambiente e da Acção Climática, João Pedro Matos Fernandes, que está a ser ouvido no Parlamento.

Segundo o governante, o objectivo é que, sempre que se verifique uma descida dos preços da matéria-prima, “a mesma seja sentida e apropriada pelos consumidores ao invés de apropriada pelas margens de comercialização, evitando, ainda, subidas bruscas e, potencialmente, injustificadas”.

“O preço das licenças de emissão de dióxido de carbono reflecte a necessidade de mudança para um paradigma hipocarbónico, com o qual concordamos. Por isso, resta-nos, mediante fundamentação regulatória, intervir nas margens de comercialização que, se não são abusivas, reflectem pelo menos um crescimento duvidoso”, afirmou o ministro do Ambiente.

Para o Governo, o crescimento das margens é “duvidoso”, “porque não são reflectidos nos preços de venda ao público as descidas de preço do crude, ao invés da rapidez por todos sentida aquando da subida do seu preço” e, nesse sentido, cabe ao Governo “actuar no curto prazo para corrigir um mercado onde há agentes que se aproveitam das flutuações de preços para aumentar injustificadamente as suas margens”.

O ministro do Ambiente precisou que o que o Governo se propõe a fazer é fixar por portaria a margem máxima de comercialização dos combustíveis, para “garantir que nunca terão subida excessivas”.

“Hoje, se nós tivéssemos este mecanismo, a portaria justificava-se, não tenho a mais pequena dúvida”, acrescentou.

Segundo um estudo da Entidade Nacional para o Sector Energético (ENSE) divulgado também esta quarta-feira, horas antes da ida de Matos Fernandes ao Parlamento, a margem dos comercializadores, no final de Junho, era superior em 36,6% na gasolina e 5% no gasóleo à margem média praticada em 2019.

Citando o estudo “Análise da Evolução dos Preços de Combustíveis em Portugal”, a entidade que fiscaliza o sector dos combustíveis conclui que, “durante os meses críticos da pandemia, os preços médios de venda ao público desceram a um ritmo claramente inferior à descida dos preços de referência”, o que significa que “as margens dos comercializadores atingiram, assim, em 2020, máximos do período em análise”.

Por sua vez, a Apetro - Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas tem vindo a atribuir o nível actual de preços nos combustíveis, superior a 2008, ainda que a cotação do petróleo seja inferior, à incorporação de biocombustíveis e à elevada carga fiscal.

Matos Fernandes explicou que o Governo não pode ainda intervir no preço dos combustíveis à saída das refinarias, que é determinado pelo mercado mundial, mas lembrou que, nos últimos dois anos, a carga fiscal manteve-se.

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