Viagens no tempo? É vir a Portugal e respirar de alívio

Este é o país em que, ao mesmo tempo que a polícia quer multar alguém que, numa esplanada, não voltou a colocar a máscara assim que terminou o café, as viagens de avião se fazem como se o coronavírus SARS-CoV-2 nem sequer existisse.

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Reuters/PEDRO NUNES

Não consigo perceber por que há países a desaconselharem a vinda dos seus cidadãos a Portugal durante as férias. É que não bastava termos sol, mar e golfe. Agora, Portugal oferece ainda viagens no tempo, sem despesas extra ou aborrecidas inscrições. E, para nos sentirmos numa, não é sequer preciso recorrer a elaboradas máquinas ou estudar a teoria da relatividade. Para ter esta experiência, basta aterrar num aeroporto nacional. E sentimo-nos tão leves quanto na era pré-covid.

O mesmo não se passa à saída. Vá-se lá perceber porquê, Espanha nem sequer aceita que se entre dentro de um avião que tenha o país como destino sem apresentar teste negativo ou certificado de vacinação: ou um ou outro tem de ser exibido ao mesmo tempo que o cartão de embarque e a identificação. E não se pense que o papel é desprezado: olham bem para perceber se o nome é de quem apresenta o teste, a data e, claro, o resultado.

E depois de aterrar? Não nos incomodam? Isso é que era bom! É que se não podíamos embarcar sem teste negativo, não nos permitem entrar no país sem apontarem uma máquina a um QR Code, gerado depois de preenchido um formulário online, no qual não só se indica a existência de teste ou de certificado de vacinação como se informa o intuito da viagem, a duração e o local da estada.

Portugal também tem um formulário para preencher online. Mas deu erro tantas vezes que acabei por desistir, julgando que, como aconteceu no voo de Lisboa para Barcelona com alguns passageiros que não o tinham feito, alguém me entregaria um questionário em papel. E, uma vez que o regresso seria realizado mais de 72 horas após o primeiro teste, vai de me submeter a novo teste na Catalunha: negativo.

No mesmo dia em que tenho voo de regresso, a Catalunha decide voltar a apertar as regras, uma vez que os casos dispararam, sobretudo entre os mais jovens.

Na província durante 48 horas, mas numa espécie de bolha, anseio pelo regresso a um país onde a luta contra a pandemia é levada a sério. Pode-se até pensar que tirar uma criança a uma mãe por esta não a deixar usar máscara na escola é uma medida desproporcional. Mas, convenhamos, vivemos tempos atípicos.

No entanto, este é o país em que, ao mesmo tempo que a polícia quer multar alguém que, numa esplanada, não voltou a colocar a máscara assim que terminou o café, as viagens de avião se fazem como se o coronavírus SARS-CoV-2 nem sequer existisse.

Aterramos. Um Airbus A321 que, sem estar à pinha, vinha muito composto.

Tento perceber se me entregam algum papel para preencher: nada.

Retiro a documentação para a ter a postos, teste negativo incluído. Saio do avião à espera de alguém a verificar temperatura ou papelada: nada.

Sigo em direcção à saída, passando por vários agentes aeroportuários, de segurança, da autoridade: nada. Não há uma alma sequer que me peça o que quer que seja.

Eu e mais de uma centena de pessoas, vindas de uma região com a situação do controlo da pandemia descontrolada, entrámos em Portugal como se ainda vivêssemos em 2019.

Se o observado naquele dia se repete em todos os outros, conclui-se que, para além de nós, entram, diariamente, no país milhares de pessoas sem qualquer tipo de rastreio.

Mas não há problema: nos restaurantes, ao fim-de-semana (porque se calhar “o vírus durante a semana está ocupado a fazer outras coisas​”), passará a ser obrigatório mostrar teste ou certificado. Respire-se de alívio. 

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