“Que horror!” A frase recorrente para definir o calor em Beja

No sábado, as temperaturas chegaram aos 41 graus centígrados na cidade alentejana.

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Nuno Ferreira Santos/Arquivo

Para alguns, o fim-de-semana é passado dentro de casa de persianas corridas e a ver televisão. As ruas estão quase desertas e a maioria das esplanadas desapareceram. Sentada no parapeito de uma janela ampla numa superfície comercial de Beja, uma mulher parecia esperar a sua vez para utilizar uma caixa Multibanco. Vaga uma delas, “é a sua vez”, diz outra mulher. Mas a visada faz um sinal com dedo indicador de que não estava na fila.

A razão da sua presença naquele lugar era outra. “Ao menos aqui está fresquinho e vejo pessoas. Na minha casinha não se pode estar. Estou aqui quase sem dormir por causa deste calor horrível.”

Só se lembra de algo assim quando era moça e andava na monda. Até ao horizonte mais longínquo que o olhar alcançava, as searas de trigo cobriam, então, os barros de Beja, do loiro de que falam os cancioneiros populares.

Os tempos são outros, mas para as franjas da população mais vulnerável que habita em casas de alvenaria, consoante a idade vai avançado, têm menos capacidade de enfrentar os eventos de calor extremo trazidos pelo ar de origem africana que entra pelo sul da Península Ibérica.

Procurar o ambiente fresco das superfícies comerciais ou cafés é a alternativa que se oferece a quem não tem aparelhos de ar condicionado em casa ou habitações com paredes de taipa, que, entretanto, foram desaparecendo das aldeias e cidades alentejanas.

Depois de um sábado anormalmente quente em que as compras de fim-de-semana se fizeram debaixo de um calor “infernal” (chegou aos 41 graus centígrados na cidade de Beja), a noite seria passada a contar as batidas das horas no relógio da sala ou a consultar o smartphone na esperança vã que o cansaço arrastasse o sono consigo.

O acordar nestas condições é quase sempre mal-disposto, reforçado quando se confirma a temperatura ambiente às 8h: tocava nos 25 graus centígrados e foi subindo ao longo da manhã e tarde de hoje.

“Parece que tenho chumbo nos pés”

Ao meio-dia, Lucinda Taborda, 77 anos, seguia o marido, arrastando a passada. Vieram da Baixa da Banheira para um fim-de-semana com familiares, conta ao PÚBLICO. A idade associada ao calor não perdoa: “Parece que tenho chumbo nos pés”.

A máscara é um suplício e desce para o pescoço sempre que não há pessoas por perto. O companheiro, Manuel Carteiro, 75 anos, diz ter feito a recruta no quartel de Beja, e, apesar de ter nascido no Alentejo, recorda “o martírio” daqueles que se preparavam para combater em África.

Tomaram o pequeno-almoço numa esplanada da cidade. “Custou-nos muito estar ali, mesmo debaixo dos toldos. Está muito calor…”, comenta Lucinda Taborda, sem conseguir completar a frase.

A maioria das esplanadas de Beja, habitualmente bastante preenchidas durante a semana, despareceram neste domingo. Há pouca gente nas ruas. E até os pontos de água e repuxos instalados na zona mais concorrida da cidade de Beja para refrescar o meio ambiente, estão desactivados.

“Ficamos dentro de casa, de persianas e cortinados corridos, assim, até ao cair da noite. Desforramo-nos vendo televisão”, diz, conformada, Gisela Coelho, à saída de uma superfície comercial. “Até que passe o calor.”

“Que horror!” Duas palavras que são recorrentes dão expressão ao desabafo de Gisela Coelho, esperançada que no dia de amanhã a canícula que tem assolado Beja neste fim-de-semana dê lugar a uma temperatura mais amena.

Mas se as previsões apontam para uma descida das temperaturas no Alentejo, nas regiões espanholas da Extremadura e Andaluzia verifica-se o oposto. A Agência Estatal de Meteorologia (Aemet) regista um aumento das temperaturas no interior sul da Andaluzia, entre 41 e 44 graus centígrados, podendo até chegar ocasionalmente a 47 no vale do Guadalquivir. Será um episódio “breve, mas intenso”, refere a Aemet.

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