UEFA admite que formato do Euro2020 é “injusto para as equipas e adeptos”

Aleksander Ceferin considera que é “uma ideia interessante”, mas “difícil de implementar”. Aquando da eliminação do País de Gales, o defesa Chris Gunter já havia deixado duras críticas ao formato do torneio.

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Aleksander Ceferin é presidente da UEFA desde Setembro de 2016 LUSA/FABIO FRUSTACI

O presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, referiu esta sexta-feira, em entrevista à BBC Sport, que não voltará a apoiar a ideia do formato pan-continental do Euro2020 e que este não deverá ser utilizado em futuros torneios. O esloveno, de 53 anos, considera que é injusto para as equipas, bem como para os adeptos que viajam milhares de quilómetros entre os jogos.

“De certa forma, não é correcto que algumas equipas tenham de viajar mais de 10.000 km, enquanto outras apenas 1.000 km”, disse Ceferin sobre o formato da prova disputada em 11 cidades, que considera ter sido “muito desafiador”. Os jogos foram realizados em Budapeste, Londres, Glasgow, Amesterdão, Copenhaga, São Petersburgo, Sevilha, Munique, Baku, Roma e Bucareste.

“Não é justo para os adeptos que tiveram que estar em Roma num dia e depois em Baku nos seguintes, o que representa um voo de quatro horas e meia. Não voltarei a apoiar [este formato]”, afirmou.

Para além dos muitos quilómetros de viagens entre os países, o presidente da UEFA destacou ainda as diferentes jurisdições e moedas, os países que pertencem à União Europeia (UE) e os que estão fora da UE, algo que “não foi fácil” de gerir.

Sobre o formato, que foi decidido antes de assumir o cargo de presidente da UEFA – em Setembro de 2016 -, Aleksander Ceferin afirmou ainda que “é uma ideia interessante, mas difícil de implementar”. “Acho que não a faremos de novo”, enfatizou.

“Torneio de brincadeira”

O País de Gales foi umas das equipas que teve de realizar vários quilómetros de viagem entre cidades (foram 9.156 no total): jogou duas vezes em Baku, no Azerbaijão, antes de voar para Roma, para a última partida da fase de grupos. Seguiu-se Amesterdão, para os oitavos-de-final, um encontro que acabaria por perder diante da Dinamarca, por 4-0. Após a eliminação do Euro2020, o defesa galês Chris Gunter deixou uma mensagem de despedida, com duras críticas à organização da competição.

“Todas as nações tiveram adeptos onde quer que fosse. O País de Gales não teve - excepto aqueles 350 que quebraram as regras do Governo e as suas contas bancárias para lá estar. Vocês e nós merecíamos mais do que este torneio de brincadeira, mas quem disse que a vida é justa?”, escreveu o jogador de 31 anos, nas redes sociais.

Apesar de todas as críticas, o presidente da UEFA confessou também, em entrevista à BBC Sport, que o Euro2020 foi o Campeonato da Europa “mais interessante”. “Nunca vi um Euro dramático como este, com grandes jogos e resultados surpreendentes”, disse.

Ceferin e os 76 testes à covid-19

O Euro2020 foi adiado para este ano devido à pandemia de covid-19 e este tema foi também motivo de conversa. O presidente da UEFA destacou o bom trabalho de todos na contenção do vírus entre as diversas selecções presentes na prova. “Foi um Euro especial, sem dúvida. Vou recordá-lo como o início da normalidade e o regresso dos adeptos aos estádios”.

 “Os nossos protocolos de saúde são extremamente rígidos e todas as pessoas são testadas, mesmo aquelas que já foram vacinadas. Fiz o teste 76 vezes”, declarou o esloveno, admitindo alguma decepção quando se associam surtos de covid-19 aos jogos do Euro2020.

“As equipas são muito profissionais e todas respeitam o sistema de bolhas. Nos estádios também somos muito rígidos e quando vejo políticos a dizerem que as pessoas se contagiaram nos jogos, sem qualquer prova, fico um pouco decepcionado.”

A UEFA e a comunidade LGBTI

Um dos temas também abordados na entrevista foi a rejeição da iluminação arco-íris no estádio de Munique por parte da UEFA. No jogo entre a Alemanha e a Hungria, a selecção alemã queria mostrar o seu apoio à comunidade LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgénero e Intersexo) da Hungria, país que havia aprovado uma lei que proibia a divulgação de conteúdos sobre orientação sexual a menores de 18 anos.

 “A minha opinião sobre direitos humanos e diversidade e a opinião da UEFA é clara”, afirmou. No entanto, o presidente da UEFA defende que a organização “não pode ser arrastada para qualquer luta política”.

“O problema é que recebemos uma carta com um pedido para iluminar o estádio com as cores do arco-íris em protesto contra o Governo de um país da Europa e contra o Parlamento de um país da Europa. A UEFA é uma organização que, por estatuto, não se pode associar com a política”, explicou Ceferin, sublinhando que o organismo “não pode protestar contra nenhum Governo”.

De recordar que o Euro 2020, que termina já no próximo domingo (20h, RTP1), foi realizado em 11 cidades, com Londres a receber as duas meias-finais e a final, entre Inglaterra e Itália.

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