Anseios de uma vacina

Estamos todos a ser contemplados pela maior e mais complexa campanha de vacinação, nacional e mundial. Lembremo-nos que, no fim de dez meses de pandemia, a vacina chegou a Portugal e que em apenas seis meses já temos mais de 30% de pessoas completamente vacinadas.

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Ricardo Lopes

Todos os dias, na conversa de café, no telefonema de rotina com a família, nas reuniões do trabalho, na paragem ou na sala de espera, será quase impossível não ouvir a palavra vacina. Das partilhas de quem já levou a sua primeira ou até segunda dose da vacina, da emoção de quem vai tomar a vacina nesse dia, ou dos anseios de quem aguarda pela sua vez.

A vacina contra a covid-19 consegue gerar ao mesmo tempo uma enorme dose de esperança, mas uma outra inquietante de desconfiança. Dos que questionam a rapidez, dos que receiam mais a vacina do que a doença, ou dos que alimentam teorias da conspiração e até testam magnetismos.

Mas se, por um lado, me preocupa verdadeiramente ler que parte dos jovens que agora podem ser vacinados coloca a hipótese de não o fazer, logo a seguir agarro-me ao facto de no dia em que abriu o auto-agendamento para jovens a partir dos 27 anos, o site ter bloqueado com a quantidade de inscrições.

Estamos todos a ser contemplados pela maior e mais complexa campanha de vacinação, nacional e mundial. Lembremo-nos que, no fim de dez meses de pandemia, a vacina chegou a Portugal e que em apenas seis meses já temos mais de 30% de pessoas completamente vacinadas.

Se questionas como foi possível tudo isto ser tão rápido, compreendo. Mas há várias razões que justificam esta rapidez no desenvolvimento das várias vacinas. Os cientistas mobilizaram todo o conhecimento que tinham para encontrar a única solução para o combate da pandemia – a vacina. E o que parece ter sido em meses, na verdade está assente em décadas de investigação científica, de áreas tão diversas como a imunologia ou a química. As indústrias farmacêuticas avançaram com várias fases do processo ao mesmo tempo, enquanto as entidades reguladoras prosseguiam com toda a avaliação destas etapas. Nenhuma fase foi ultrapassada e a ciência dá-nos a confiança com os seus resultados e contínua monitorização. Todas as vacinas são extremamente seguras e eficazes.

Que nos lembremos que tal só foi possível pela mobilização mundial e monumental da comunidade científica. Este é também o momento de nos mobilizarmos e dizer sim a qualquer vacina contra a covid-19.

Os benefícios da vacina na prevenção da covid-19, com os riscos de hospitalização e morte provocados pela doença, são superiores aos riscos dos efeitos secundários. Os números da pandemia já nos mostram este impacto das vacinas no nosso sistema de saúde: apesar do aumento de novos casos, conseguimos perceber claramente que não existe a subida tão significativa das hospitalizações ou da mortalidade.

A maratona está mesmo a ser longa e o cansaço toma conta de todos de nós. O aparecimento do SARS-CoV-2 mudou drasticamente as nossas vidas e continuamos a viver a incógnita de como será o futuro. Não sabemos o que estas novas variantes podem trazer e não há previsão de quando todas as nossas rotinas podem ser restabelecidas.

Mas há uma certeza: a vacinação é mesmo a resposta essencial para ultrapassarmos a pandemia e não tomar a vacina não coloca em risco a apenas a tua saúde, mas sim a de toda a comunidade. Que vacina a vacina, e em cada conversa sobre a mesma, reforcemos a confiança na ciência e sejamos gratos pelo privilégio de a ter. Eu tenho, sim, o anseio pelo dia em que vou ser eu a conversar sobre a minha vacina.
 

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