Dragagens na Barrinha de Esmoriz soterram orquídeas raras, diz associação

Associação ambientalista FAPAS denuncia danos no ecossistema provocados pela execução do plano de reabilitação da Barrinha de Esmoriz/ Lagoa de Paramos.

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Plano de reabilitação tem sofrido "atrasos", acusam ambientalistas Adriano Miranda

A Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade (FAPAS) acusa o projecto de requalificação em curso na Barrinha de Esmoriz/ Lagoa de Paramos, da responsabilidade da Polis Litoral da Ria de Aveiro, de estar a danificar o ecossistema local e de não cumprir os prazos previstos.

Em 2016, arrancou um projecto de intervenção na Barrinha orçamentado em 2, 749 milhões de euros, geridos pela Polis Litoral da Ria de Aveiro, uma sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos, criada para liderar a intervenção do Programa Polis naquele distrito do centro do país. Nessa altura, foi anunciado pela própria empresa pública que a intervenção iria compreender “trabalhos de dragagem, consolidação dunar e reabilitação das estruturas de defesa costeira, requalificação das margens e implementação de percursos pedonais e cicláveis”. A FAPAS assegura, contudo, que o processo tem sofrido “inúmeros atrasos”, criticando, em comunicado, que o anúncio da intenção de lançar um concurso público para a realização de novas dragagens “seja feito em vésperas de eleições autárquicas”.

Para a FAPAS, algumas das intervenções já realizadas não estão a conduzir aos efeitos desejados. As dragagens, segundo a associação ambiental, foram feitas sem ter “em conta aspectos fundamentais para a preservação do ecossistema”, e o seu produto acabou por soterrar diversas espécies de plantas, entre as quais “uma população de orquídeas autóctones raras em Portugal, protegidas por lei, da espécie Spiranthes aestivalis”.

Os passadiços, que foram inaugurados em 2017, vieram “devassar um ecossistema já de si fragilizado”, acrescentam ainda os ambientalistas. Na sua óptica, foram construídos “sem qualquer consideração pelos valores naturais. Podiam ter sido feitos e cumprir missão semelhante, mas com mais orientação técnica e sem causarem prejuízos para a avifauna”, lê-se ainda no comunicado.

Os ambientalistas continuam a defender a criação de uma Reserva Natural na Barrinha, mesmo depois deste espaço natural que une os concelhos de Ovar e de Espinho ter sido integrado na Rede Natura 2000. No regime actual, os 396 hectares da Barrinha de Esmoriz/ Lagoa de Paramos, particularmente procurados por aves para nidificação, encontram-se “ao total abandono”, garante a FAPAS. Na óptica desta associação, a valorização do local, nomeadamente em termos turísticos, não pode passar apenas pela “construção de passadiços, dragagens e abertura de caminhos”. Pôr fim à contaminação que cria sedimentos indesejáveis na lagoa é fundamental, senão o ciclo poluição-dragagens nunca será interrompido.

Entre as propostas da associação ambientalista, conta-se a criação de dois postos de vigilantes da Natureza “que zelem pela conservação” daquele local e impeçam a poluição sonora que perturba a “nidificação de aves”, bem como a vandalização de que tem sido alvo devido a “usos inadequados”. Outra das preocupações é a proliferação de plantas invasoras, “como as acácias ou o chorão-das-areias”.

O PÚBLICO questionou a Polis Litoral da Ria de Aveiro mas não obteve respostas.

Texto editado por Ana Fernandes

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