Relatório revela “deterioração alarmante” da liberdade de imprensa na Eslovénia

Organização não-governamental eslovena acusa o Governo de censurar o jornalismo crítico e reforçar uma narrativa a favor do executivo com uma rede de meios de comunicação pró-governamentais.

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De acordo com o relatório, a liberdade de imprensa deteriorou-se na Eslovénia desde que o primeiro-ministro, Janez Jansa, voltou ao poder em Março de 2020 POOL/Reuters

A liberdade de imprensa deteriorou-se “de forma alarmante” na Eslovénia desde que o primeiro-ministro, Janez Jansa, voltou ao poder em Março de 2020, segundo um relatório publicado esta segunda-feira pela organização não-governamental (ONG) Resposta Rápida à Liberdade de Imprensa.

A ONG eslovena acusa o Partido Democrático Esloveno (SDS, na sigla em esloveno) de seguir uma estratégia para censurar o jornalismo crítico, remodelando o panorama dos meios de comunicação social para divulgar notícias pró-governamentais.

Uma narrativa que foi reforçada por uma rede de meios de comunicação pró-governamentais, financiados por membros do SDS, acrescenta a ONG.

"Publicam artigos de opinião racistas e homofóbicos e dedicam-se à difamação e ataques pessoais a jornalistas destacados e políticos da oposição eslovena”, disse Laurens Hueting, do Centro Europeu para a Liberdade de Imprensa e Meios de Comunicação Social.

Hueting defende que o Governo da Eslovénia, que sucedeu a Portugal na presidência do Conselho da União Europeia, utiliza os meios de comunicação social para “insultar e rebaixar” os jornalistas “com quem discorda”, sendo que os principais alvos, segundo o próprio, são as mulheres, que sofrem insultos misóginos e sexistas.

"As mulheres jornalistas têm sofrido desproporcionadamente com esta crescente hostilidade. Estamos a deparar-nos com algumas histórias realmente desoladoras”, sublinhou.

De acordo com o relatório, o SDS e o Gabinete de Comunicação do Governo esloveno propuseram-se a “sufocar financeiramente” a Agência de Imprensa Eslovena (STA, na sigla em inglês), nos últimos nove meses.

Jamie Wiseman, do Instituto Internacional de Imprensa, descreveu a agência como “uma artéria chave” para o ecossistema dos meios de comunicação que, se cortada, “mata a circulação de todo o sistema”.

Wiseman acrescentou que “até que um contrato de financiamento sustentável seja assinado e até que os tostões sejam colocados no papel, a sobrevivência da STA e do seu serviço público continuará em perigo”.

Os ataques à agência noticiosa eslovena fazem lembrar a estratégia utilizada pelo primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, que tem um “efeito muito negativo” tanto na confiança nos meios de comunicação, como no sistema democrático, disse a directora da Federação Europeia de Jornalistas, Renate Schroeder.

"Exortamos o Governo esloveno a reconhecer o papel do jornalismo independente e da reportagem crítica na posse do poder de prestar contas em qualquer sociedade democrática”, disse Tim Schoot Uiterkamp, da Free Press Unlimited.

O relatório apela a uma série de medidas para travar a deterioração da liberdade dos media e, consequentemente, para estabelecer salvaguardas institucionais mais fortes contra interferências políticas, tais como órgãos de supervisão.

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