Rei de eSwatini apela à calma após protestos violentos contra o poder absoluto do monarca africano

Contestação ao monarca absoluto nas ruas do reino africano terá causado pelo menos 40 mortos. Governo desmente que Mswati III tenha fugido do país, a antiga Suazilândia.

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O rei Mswati III governa eSwatini como uma monarquia absoluta desde 1986 Kollmeierf/Commons

O rei Mswati III de eSwatini, a antiga Suazilândia, fez um apelo à calma após os protestos pró-democracia dos últimos dias, que provocaram tumultos em várias cidades do reino e deixaram um número não especificado de mortes, que podem ascender às quatro dezenas, de acordo com a oposição.

O monarca, que há vários dias não aparece em público - especulou-se sobre a sua possível fuga do país - fez as declarações através de um governador provincial, que sublinhou que o rei está “preocupado” com a situação, segundo relatou o jornal The Swazi Observer.

“O rei pede aos pais que ensinem bom comportamento aos jovens, o que os tornará cidadãos responsáveis ​​no futuro. O que está a acontecer abre um péssimo precedente para as gerações futuras, que aprenderão a linguagem da violência”, disse o governador de Ludzidzini, Lusendvo Fakudze, sublinhando que o país “ama a paz” e defendendo que os incidentes dos últimos dias são “muito estranhos” e “raros” entre a população deste pequeno país da África Austral que faz fronteira com Moçambique. O governador criticou ainda os incêndios e o saque de lojas e outros edifícios durante os protestos.

“O rei tem viajado à volta do mundo à procura de investimentos para que o país crie empregos para a população suazi. Onde trabalharão as pessoas se essas empresas começarem a ser destruídas?”, disse Fakudze

Já o primeiro-ministro interino de eSwatini, Themba Masuku, negou que as autoridades tenham imposto a lei marcial, após a aplicação do recolher obrigatório e do encerramento de escolas devido aos incidentes durante as manifestações.

“O governo reforçou a segurança para impor a lei, a paz e proteger os suazis”, afirmou Masuku. “Não vamos tolerar saques, incêndios, violência e todas as formas de crime dirigido contra empresas e propriedades”, sublinhou, de acordo com o portal de notícias sul-africano IOL.

Os protestos começaram a 20 de Junho, quando centenas de pessoas saíram às ruas para exigir que o primeiro-ministro fosse democraticamente eleito e não nomeado directamente pelo rei, e para exigir que Mswati III - que governa o país como uma monarquia absoluta - abdicasse de parte dos seus poderes.

As manifestações degeneraram em tumultos a 28 de Junho, depois de Masuku ter suspendido o processo de apresentação de petições ao Palácio Real. Durante os protestos, várias lojas, supostamente propriedade do monarca, foram incendiadas na cidade de Matsapha.

O próprio Masuku desmentiu na terça-feira os relatos que davam conta da fuga do rei Mswati III do país. A saída do monarca foi, no entanto, confirmada pela imprensa sul-africana e pelo Partido Comunista de eSwatini.

Kungahlwa Kwenile, um dos líderes dos protestos, afirmou que os incidentes fazem parte de uma campanha de desobediência lançada em face da repressão dos protestos. “O povo tem que agir contra as propriedades e empresas do rei Mswati”, defendeu, acrescentando: “Se eles se recusarem a abrir negociações em duas semanas, os manifestantes devem começar a queimar escolas e outras propriedades. Precisamos de escolas, mas preferimos recomeçar com um novo governo do que permitir que se abra fogo contra os cidadãos”, argumentou.

União Africana preocupada

O presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, declarou entretanto que está “a acompanhar de perto” a situação e disse estar “profundamente preocupado com a situação política e de segurança” em eSwatini.

“Condeno nos termos mais veementes os incidentes de violência que levaram à perda de vidas, saques e destruição de bens privados e públicos”, afirmou Mahamat, antes de apelar a “medidas imediatas” para garantir a protecção de pessoas e bens.

As autoridades de eSwatini ainda não forneceram um balanço das vítimas dos protestos, embora o presidente do Movimento Democrático Unido do Povo (PUDEMO), Mlungisi Makhanya, tenha indicado que morreram mais de 40 pessoas e 150 ficaram feridas, segundo disse ao portal de notícias Swaziland News.

eSwatini, um país de cerca de 1,3 milhões de habitantes conhecido como Suazilândia até 2018, é governado como uma monarquia absoluta por Mswati III desde 1986. O monarca controla o Parlamento e nomeia ministros, um monopólio de poder que começa a ser motivo de contestação.

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