É preciso reconquistar Lisboa aos carros e devolvê-la às pessoas

A sinistralidade em Lisboa é um problema que tem sido negligenciado pela autarquia, que permite que o reinado dos automóveis e das velocidades excessivas persista. Falta vontade política e ambição para implementar um novo paradigma na cidade.

Tragicamente, Lisboa foi palco de mais um acidente entre uma ciclista e um automóvel, que resultou na morte de Patrizia Paradiso, investigadora italiana de 37 anos, que estava grávida de cinco meses. O sinistro ocorreu na Avenida da Índia, local onde estava prevista a construção de uma ciclovia que deveria ter sido concluída há um ano, mas cujo projeto nunca saiu da gaveta do executivo de Fernando Medina. Este triste acidente remonta-nos para um outro que aconteceu há cerca de um ano no Campo Grande, onde Ana Oliveira, uma jovem de 16 anos, seguia na passadeira com a bicicleta na mão quando foi mortalmente atropelada.

Os carros nas cidades são verdadeiras armas. Segundo um estudo realizado pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil sobre acidentes de viação em Portugal, 54% das mortes registadas entre 2010 e 2019 ocorreram em zonas urbanas, tendo o número de mortes aumentado 3,3% dentro das zonas urbanas entre 2015 e 2019. Estas estatísticas são assustadoras quando comparadas com outros países europeus.

Também de acordo com o relatório de sinistralidade de 2020, a maior parte dos acidentes e vítimas registados o ano passado ocorreu dentro das localidades, tendo morrido 12 pessoas nas estradas sob gestão da Câmara Municipal de Lisboa, estradas essas nas quais os automóveis circulam a velocidades excessivas.

A sinistralidade em Lisboa é um problema que tem sido negligenciado pela autarquia, que permite que o reinado dos automóveis e das velocidades excessivas persista. Ao mesmo tempo, os peões e os ciclistas não têm condições para circularem em segurança, vendo-se muitas vezes obrigados a concorrer com o automóvel na via pública, estando obviamente em desvantagem e em perigo.

As boas práticas internacionais são conhecidas e, pasme-se, são até plasmadas nas estratégias municipais de Lisboa. Contudo, como vem sendo habitual na autarquia lisboeta, existe uma grande dificuldade em transpô-las do papel para a realidade. É o caso da implementação de Zonas 30, onde a velocidade máxima permitida é de 30 kms/h, e da criação de infraestruturas que garantam a segurança para os utilizadores mais frágeis da via pública, nomeadamente os peões e os ciclistas, que se deparam com passeios demasiado estreitos, ciclovias abruptamente interrompidas e sem a sinalização adequada. Lisboa peca igualmente pela falta de condições e de equipamentos elementares à promoção da mobilidade suave, como é o caso de estacionamento seguro e fechado de bicicletas em pontos estratégicos e junto a zonas residenciais.

Falta claramente vontade política e ambição para romper seriamente com o status quo e implementar um novo paradigma na cidade, devolvendo-a às pessoas. Isto é algo que o PAN tem defendido desde que chegou à Assembleia Municipal de Lisboa, em 2013, com diversas propostas apresentadas nesse sentido.

Para o PAN, a cidade tem de ser pensada com e para as pessoas que nela habitam e está na hora de reconquistarmos o espaço público! Para tal, é fundamental reduzir a utilização do automóvel próprio e a velocidade permitida na cidade, apostar em meios de transporte públicos mais eficientes e integrados, e proporcionar condições que permitam a utilização da bicicleta de forma eficiente e cómoda.

Temos de passar urgentemente de uma Lisboa dos acidentes, da sinistralidade rodoviária e das mortes na estrada para uma Lisboa onde todas e todos consigamos conviver em harmonia e desfrutar da belíssima cidade à qual temos a sorte de chamar casa.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Sugerir correcção
Ler 2 comentários