Síndrome de Noé: Matosinhos quer combater acumulação de animais

Depois de Sintra, a proposta do PAN foi aprovada por unanimidade na assembleia municipal desta semana. O fenómeno é mundial e também passa por Portugal. Objectivo é garantir condições ambientais e os cuidados médico-veterinários adequados aos animais.

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Paulo Pimenta

Em 2020, um estudo português feito por investigadores do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (Cintesis) alertava para o aumento da acumulação de animais domésticos um pouco por todo o mundo. O fenómeno também passa por Portugal e, por isso, depois de Sintra, Matosinhos aprovou em assembleia municipal desta semana uma proposta do PAN no sentido de ser definida uma estratégia de prevenção e combate ao chamado Síndrome de Noé. 

Esta perturbação, com nome inspirado no mito bíblico do Dilúvio, em que Noé abre a porta de uma arca que o próprio construiu a animais de todas as espécies, caracteriza-se pela necessidade de manter em casa um número elevado de animais sem que lhes sejam proporcionadas as condições ambientais e os cuidados médico-veterinários adequados. A força partidária diz, no comunicado que levou a proposta à assembleia matosinhense, que este comportamento configura “uma ameaça à saúde e ao bem-estar desses animais, levando-os muitas vezes à morte, mas também à saúde das próprias pessoas, de toda a família, que várias vezes inclui crianças e idosos, e à saúde pública”.

“Estamos perante situações de perturbação psicológica e de necessidade de ajuda especializada, um problema complexo que exige a intervenção de equipas multidisciplinares e especializadas, uma vez que na maioria das vezes estas pessoas não se encontram capazes de reconhecer que estão doentes e que estão a pôr em risco a sua vida, a daqueles com quem habitam e a dos animais. Torna-se por isso fundamental a criação de estratégias de intervenção precoce, revertendo a realidade actual de actuação já numa fase de degradação”, afirma Albano Lemos Pires, deputado municipal do PAN, no mesmo comunicado.

No próprio concelho já várias vezes aconteceu associações de protecção de animais serem chamadas a intervir em situações de acumulação de animais. Porém, falta ajuda especializada e respostas específicas para resolver os casos. Pretende-se com esta proposta agora aprovada “elaborar um manual de procedimentos para intervenção e acompanhamento nas situações de perturbação de acumulação de animais; definir o protocolo de actuação a adoptar relativamente aos animais encontrados nos casos de acumulação de animais, incluindo uma estratégia de acompanhamento psicossocial das pessoas identificadas”. 

A proposta prevê ainda que sejam realizadas acções de formação que se debrucem sobre a perturbação de acumulação de animais de companhia – Síndrome de Noé –, através de uma abordagem transdisciplinar com os serviços municipais, nomeadamente Polícia Municipal, técnicos da acção social, profissionais do CROA – Centro de Recolha Oficial de Animais, Bombeiros, Associações de Protecção Animal, entre outros. Algumas destas medidas já estão a ser postas em marcha em Sintra. 

O documento salienta ainda que estes animais que vivem num espaço sobrepovoado por outros bichos vivem muitas vezes “negligenciados” e, por isso, “acabam por adoecer, passar fome e em constante stress, num ambiente sobrelotado e impróprio para a satisfação das suas necessidades básicas. Sem acesso a cuidados veterinários e por não serem esterilizados, reproduzem-se sem qualquer controlo, amontoados na habitação ou noutros espaços improvisados, vivendo muitas vezes sobre os seus excrementos”.

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