Renault recupera clássicos e aposta tudo nos eléctricos

Após prejuízos avultados em 2020, e salvo por garantias do Estado francês, o grupo relega os híbridos para segundo plano. Nova meta: que 90% das vendas em 2030 sejam eléctricos.

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Luca de Meo, um ex-executivo ca Volkswagen que saiu da Seat, tenta dar a volta aos problemas da Renault
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Mégane Eléctrico chega ainda este ano
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A plataforma do Renault 5 eléctrico
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Protótipo do Renault 5 eléctrico

O Renault 4 e o Renault 5 são ícones franceses da era dos carros a gasóleo e a gasolina. A marca quer recuperá-los para o novo capítulo da mobilidade eléctrica, tentando reconquistar mercado e regressar aos lucros com duas mãos cheias de novidades que incluem uma versão 100% eléctrica (BEV) do best seller Mégane.

Segundo Luca de Meo, o presidente-executivo (CEO) que saiu da Seat (detida pela Volkswagen) para tentar resolver os problemas operacionais e financeiros que afligem a Renault, nos próximos quatro anos serão lançados dez novos modelos eléctricos, sete dos quais com a insígnia Renault.

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O protótipo do Renault 5 eléctrico DR

Além do Mégane eléctrico ("será um carro completamente renovado com uma nova plataforma”, prometeu De Meo), haverá versões actualizadas e eléctricas de antigos clássicos da marca.

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A plataforma do R4, R5 e Alpine

Um deles é o Renault 5 (R5). Descontinuado na década de 1990, o R5 regressa possivelmente no primeiro semestre de 2024, com “um moderno twist eléctrico”. As imagens do R5 BEV já circulavam pela imprensa especializada desde o início do ano, mas Luca de Meo fez questão de dar mais detalhes. 

A nova versão assentará numa das duas plataformas que a marca vai adoptar, num esforço de simplificação que ajudará também a cortar custos. O R5 BEV será produzido no Norte de França, onde o fabricante vai apostar na conjugação de capacidades de três fábricas (Douai, Maubeuge e Ruitz) situadas na região da Alta França, que faz fronteira com a Bélgica e é vizinha do Canal da Mancha.

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É nessa região que se projecta a Renault ElectriCity, uma nova entidade que, segundo De Meo, será “a maior e mais competitiva instalação produtiva de mobilidade eléctrica na Europa”.

Douai produzirá o Mégane E-TECH Electric, disponível ainda este ano, lançando-se depois para outros modelos. Em Maubeuge será produzida a nova Kangoo e modelos para a Daimler (Mercedes Citan) e Nissan (NV250). A Kangoo BEV chega em 2023. A fábrica de Ruitz produzirá componentes eléctricos.

A complementar, a Renault planeia produzir baterias numa nova Gigafábrica em Douai, com capacidade máxima de 24 GWh em 2030. Para tal, anunciou na segunda-feira parcerias com os chineses da Envision AESC. Além disso, comprou 20% da Verkor, que vai construir a sua primeira Gigafábrica em Grenoble a partir de 2023.

Após um ano desastroso, com prejuízos de 8000 milhões de euros em 2020, a Renault anunciou um corte drástico no número de trabalhadores (que não deve afectar a unidade portuguesa da Renault em Cacia). Há 15 mil postos em risco, segundo contas mostradas em Fevereiro. O grupo foi salvo graças a um empréstimo de 5000 milhões de euros coberto com garantia do Estado, que continua a ser um dos accionistas de referência da Renault.

Além da redução de pessoal, a marca quer simplificar a produção, reduzindo de sete para duas o número de plataformas. Decide também focar-se mais nos 100% eléctricos (BEV) e menos nos híbridos, nos quais apostava o plano estratégico anterior. O objectivo é reorganizar o portefólio comercial para estancar a perda de mercado de carros eléctricos para concorrentes como a VW.

“Hoje assistimos a uma aceleração histórica da estratégia eléctrica do grupo Renault”, resumiu De Meo

Com a ajuda da “cidade eléctrica” no Norte de França, e em parceria com os parceiros nipónicos da aliança Nissan e Mitsubishi, o gestor aponta para a produção anual de um milhão de veículos BEV a partir de 2025. Por comparação, o grupo produziu 220 mil eléctricos em 2020.

Para o emblema francês, o futuro passa pelas plataformas CMF-EV (para modelos orientados à performance como os segmentos C e desportivos) e CMF-BEV (para o segmento B, a preço acessível). Esta última é “crítica” para obter poupanças de custos de 33% face ao custo de produção de eléctricos como o Zoe, mas não é totalmente nova, mantendo 50% dos componentes da plataforma CMF-B já em uso pela Renault e pela Nissan.

Nos modelos pequenos, outro dos clássicos recuperados em versão BEV será o Renault 4 (R4). Não foram mostradas imagens completas deste, mas De Meo disse que “internamente” lhe chamam “4ever [que pode ser lido em inglês como ‘para sempre'] e será um clássico instantâneo”.

Durante a apresentação, transmitida por Internet, surgiu no ecrã uma grelha frontal com faróis a fazerem lembrar a frente do antigo R4. Segundo duas fontes anónimas citadas pela Reuters, o 4ever é mesmo o novo R4 com motor eléctrico. Horas depois, acabou por confirmar que o Renault 4 renascerá eléctrico em 2025, partilhando a plataforma do R5 e do Alpine.

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