Iraque e Síria: EUA atacam instalações usadas por milícias ligadas ao Irão para lançar ataques com drones

Os alvos dos raides ordenados por Joe Biden eram depósitos de armas e centros de operações de grupos apoiados pelo Irão. Ataques com drones são preocupação cada vez maior no Iraque.

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Membros das Forças de Mobilização Popular participam numa parada militar este fim-de-semana, na província iraquiana de Diyala Reuters

Pela segunda vez desde que chegou à Casa Branca, Joe Biden ordenou ataques contra grupos próximos do Irão a operar no Iraque e na Síria. De acordo com o Pentágono, as instalações escolhidas como “alvos são utilizadas por milícias apoiadas pelo Irão e implicadas em ataques contra pessoal e instalações americanas no Iraque com recurso a drones”. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (organização não-governamental com sede em Londres) diz que foram mortos cinco combatentes e vários ficaram feridos.

Desde o início do ano já houve mais de 40 ataques contra interesses dos Estados Unidos no Iraque, onde continuam 2500 soldados norte-americanos, integrados na coligação internacional que combate os jihadistas do Daesh. Os EUA têm acusado as facções ligadas ao Irão de estarem por trás destes ataques.

O recurso a drones, uma novidade no país, é uma preocupação para as tropas estrangeiras, já que estes engenhos conseguem escapar aos sistemas de defesa instalados pelo Exército dos EUA para impedir os ataques com rockets. Até agora, os drones eram muito usados pelos rebeldes iemenitas houthis, que também têm laços ao Irão, para atacar a Arábia Saudita (que lidera uma coligação internacional envolvida na guerra no Iémen).

De acordo com as autoridades curdas, um drone “carregado com TNT” (sigla do explosivo trinitrotolueno) despenhou-se em Abril na base da coligação no aeroporto de Erbil (Norte), com outro a despenhar-se em Maio na base aérea iraniana de Ain al-Assad (Ocidente), onde estão tropas dos EUA. Já no início de Junho, registou-se um ataque com três drones contra o aeroporto de Bagdad (em Abril, tinha sido atingido por mísseis), onde estão mobilizados soldados americanos em permanência.

Num sinal da preocupação sobre esta nova táctica, Washington anunciou no início do mês que oferece até três milhões de dólares (2,4 milhões de euros) por informações sobre ataques com drones.

Os ataques de domingo na região da fronteira entre a Síria e o Iraque são “uma acção necessária, apropriada e deliberada para limitar o risco de escalada, mas também para enviar uma mensagem de dissuasão clara e sem ambiguidade”, afirmou John Kirby, porta-voz do Pentágono, num comunicado.

As milícias Kataeb Hezbollah e Kataeb Sayyid al-Shuhada estão entre “os vários grupos de milícias apoiados pelo Irão” que usam as instalações atacadas, diz Kirby. As Forças de Mobilização Popular do Iraque, uma coligação que integra os dois grupos, disseram à Associated Press que morreram quatro combatentes e prometem retaliar: “Continuaremos a ser o escudo que defende a nossa amada nação e estamos prontos a responder e a vingar-nos”, afirmaram.

Segundo o jornalista da Al-Jazeera Mahmoud Abdelwahed, em Bagdad, as Forças de Mobilização Popular dizem ainda “que vão atacar as instalações americanas com mísseis” e responsabilizam os EUA por não se retirarem do Iraque, cumprindo a resolução aprovada em Janeiro pela Câmara dos Representantes iraquiana.

Numa altura em que se aproxima o momento do tudo ou nada nas negociações para relançar o acordo internacional sobre o programa nuclear do Irão (que Donald Trump abandonou), o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Teerão também reagiu a estes ataques. “Os EUA continuam no caminho errado na região”, disse o porta-voz, Saeed Khatibzadeh. “O que vemos hoje não são apenas sanções mas também o prosseguir das políticas erradas das anteriores administrações com acções destas na região.”

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