União Nacional de Marine Le Pen derrotada na região de Provença

Apoiado por uma “frente republicana” da esquerda à direita, o candidato dos Republicanos venceu na segunda volta com uma margem mais confortável do que se esperava, travando a esperança da extrema-direita numa primeira vitória nas regionais de França.

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Renaud Muselier, presidente da região, beneficiou da frente republicana para renovar o seu mandato Reuters/ERIC GAILLARD

A União Nacional, de Marine Le Pen, confirmou o fracasso eleitoral da primeira volta das eleições regionais francesas, com uma derrota, este domingo, na segunda volta da corrida à presidência da região de  Provença-Alpes-Costa Azul — a única das 13 regiões de França onde a extrema-direita francesa tinha algumas hipóteses de vencer.

As sondagens dos últimos dias apontavam para uma eleição renhida entre o candidato da União Nacional, Thierry Mariani, e o actual presidente, Renaud Muselier, dos Republicanos. Na primeira volta, há uma semana, Mariani recebeu 36,38% dos votos, terminando à frente de Muselier (31,91%).

Mas a “frente republicana” que foi formada da esquerda à direita para apoiar o candidato do centro-direita, este domingo, impediu uma primeira vitória da União Nacional de Marine Le Pen nas regionais francesas. Segundo a projecção do jornal Le Figaro, Renaud Muselier recebeu uns confortáveis 56%, contra 44% de Thierry Mariani.

Para além da derrota na região de Provença-Alpes-Costa Azul (conhecida como PACA), no sudeste francês, a União Nacional perdeu num dos seus outros bastiões, a província de Hauts-de-France, no norte.

De acordo com as primeiras projecções, avançadas logo após o fecho das urnas, às 20h locais (19h em Portugal continental), o conservador Xavier Bertrand recebeu 56% em Hauts-de-France, contra 26% de Sébastien Chenu, do partido de Marine Le Pen.

“A extrema-direita foi travada nos carris”, disse Bertrand aos seus apoiantes logo após o encerramento das urnas. “Este resultado dá-me forças para pedir o voto da nação”, declarou, aludindo à sua candidatura às presidenciais de 2022.

A confirmarem-se estes resultados, a estratégia de Marine Le Pen de moderar a comunicação e de recuar em algumas propostas do seu partido pode vir a ser posta em causa, a menos de um ano das eleições presidenciais. Apesar dos alertas dos analistas contra a extrapolação dos resultados das regionais — marcadas por uma abstenção recorde, a rondar os 70% nas duas voltas —, há eleitores da União Nacional descontentes com o que dizem ser a descaracterização do partido fundado por Jean-Marie Le Pen.

“Ela está a afastar-se dos valores fundamentais do partido”, disse Jean-Pascal Devaux, um electricista reformado de Montdidier, na região de Hauts-de-France, ouvido pelo Politico. “Quando a ouço, parece que estou a ouvir uma candidata da esquerda. Está muito branda nas posições anticrime e contra a imigração.”

Os resultados das regionais francesas também puseram vários analistas a equacionarem uma eleição presidencial mais imprevisível do que se pensava, com a entrada de candidatos como Xavier Bertrand para contas que pareciam estar fechadas à volta de Emmanuel Macron e Marine Le Pen.

Mas a elevada abstenção, que pode traduzir apenas um enorme desinteresse do eleitorado pelas eleições regionais, ou algo mais profundo que também venha a ter consequências para as presidenciais de Abril de 2022, sugere muitas cautelas nas análises.

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