Bélgica - Portugal. O diabo vestiu de vermelho e esteve num detalhe

Numa partida em que Portugal foi superior durante todo o jogo, bastou um momento de inspiração de Thorgan Hazard, no final da primeira parte, para a Bélgica afastar o campeão europeu.

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Bernardo Silva disputa bola com adversário belga Lluis Gene/EPA
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Belgas festejam golo de Thorgan Hazard HUGO DELGADO/EPA
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Cristiano salta mais alto que o adversário HUGO DELGADO/EPA

Muitas vezes, a estatística é apenas isso: um conjunto de números. Mas, muitas vezes, a estatística encaixa como uma luva na descrição de um jogo de futebol. Tantas vezes criticado pelo seu futebol calculista e, alegam, pouco ofensivo, Portugal arrasou a Bélgica em tudo o que é estatística nos oitavos-de-final do Euro 2020, mas no único remate enquadrado em que acertaram na baliza de Rui Patrício, os belgas ganharam um jackpot. Um grande remate de Thorgan Hazard no final da primeira parte, bastou para os “diabos vermelhos” afastarem o campeão europeu e marcarem viagem para Munique, onde vai defrontar a Itália.

Sem margem para respirar, mais ainda quando Sevilha manteve as temperaturas máximas a rondar os 40 graus de Budapeste, Portugal, depois de em quatro dias ter defrontado os dois últimos campeões do mundo (Alemanha e França), não mexeu no seu desenho táctico, mas, num jogo que já se sabia continuaria a ser de exigência máxima, Fernando Santos retirou da equipa os dois jogadores que contra os franceses tinham sido substituídos por problemas físicos: Diogo Dalot e João Palhinha ocuparam os lugares de Nelson Semedo e Danilo.

Do outro lado, habituados desde o Mundial 2014 a chegarem às grandes competições com o rótulo da “equipa que todos temem” e a saíram das provas na fase a eliminar sem confirmarem as toneladas de talento que têm na maioria dos seus jogadores, os belgas apresentaram-se em Sevilha com o seu melhor fato.

Após uma fase de grupos muito acessível, que deu para Roberto Martínez gerir a condição física de alguns jogadores preponderantes para a sua estratégia, o espanhol colocou em campo contra Portugal todos os seus trunfos e, sem tocar no seu 3x4x2x1, apostou na experiência: dez dos titulares dos “diabos vermelhos” tinham mais de 28 anos.

Martínez, no entanto, tinha novidades. Na defesa, o catalão trocou a menor traquejo de Denayer por Vermaelen, central com um currículo de luxo, enquanto no meio-campo Axel Witsel surgiu ao lado de Tielemans – Dendoncker, um médio menos “refinado” do que o ex-benfiquista, ficou no banco.

Depois, no ataque, havia um trio que vale o seu peso em ouro. Se não havia dúvidas que Kevin de Bruyne ia surgir no apoio a Lukaku, menos expectável era a aposta de início em Eden Hazard, que tinha feito 90 minutos no “treino” que os belgas fizeram contra a Finlândia e que tem gerido a sua condição débil física com pinças.

Com mais 48 horas de descanso, a Bélgica até entrou melhor no jogo e, na primeira metade da primeira parte, até deixou a sensação de querer ser a equipa ofensiva que tem merecido tantos elogios. Porém, o fogo dos “diabos vermelhos” teve pouca chama.

Mesmo no melhor período belga, foi Diogo Jota que teve a primeira oportunidade (6’), e, aos 25’, Ronaldo de livre forçou Courtois a mostrar pela primeira vez por que razão é um dos melhores guarda-redes do mundo.

Até aí inofensiva, a Bélgica teve a primeira oportunidade aos 37’ - remate de trivela de Mounier -, mas, na primeira vez que acertaram na baliza portuguesa, os “diabos vermelhos” marcaram: confirmando que há muito talento na família Hazard, Thorgan conjugou potência e efeito num remate de fora da área, batendo Patrício.

Tiro ao boneco

Com um golpe difícil de encaixar, Fernando Santos regressou do intervalo sem mexer, mas bastaram alguns segundos para a Bélgica perder uma das suas figuras (de Bruyne saiu lesionado) e para perceber que Martínez não ia jogar olhos nos olhos: Thorgan e Meunier deixaram de subir; a Bélgica passou a ter uma defesa de cinco.

A partir daí, foi quase tiro ao boneco. Com os belgas a provocarem o confronto e a perda de tempo sempre que possível, Santos foi lançando avançados e médios com vocação ofensiva (João Félix, André Silva, Bruno Fernandes e Sérgio Oliveira) e, a partir do minuto 78, com a entrada de Danilo, passou a jogar em 3x4x3, arriscando tudo.

No entanto, depois de coroar em 2003 o FC Porto de Mourinho na Taça UEFA, desta vez o Olímpico de la Cartuja não queria ficar no lado bom do futebol português. Sem que a Bélgica conseguisse rematar à baliza, Portugal teve uma mão cheia de oportunidades (Jota aos 58’; Félix aos 61’; Fernandes aos 62’; Ronaldo aos 82’).

A melhor acabaria por sair do pé direito de Raphaël Guerreiro, mas depois de marcar contra a Hungria aos 84’, desta vez o defesa português acertou no poste no minuto 83.

O jogo acabava com 24-6 em remates e 3-0 em cantos, números que ficam para a história, mas de nada valem a Portugal. Em Sevilha, o diabo para a selecção nacional vestiu de vermelho e esteve num detalhe de qualidade de Thorgan Hazard.

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